| Foto: Conger Design/Pixabay
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Tem tanta informação na internet, que às vezes fica difícil escolher onde ler e o que ver. Mas uma hora a gente tem que escolher. E aquilo que lemos, vemos, ou ouvimos, pode ter um impacto profundo na nossa percepção do assunto: para o bem ou para o mal. No nosso caso aqui, como focamos mais no passado do mundo, é muito fácil encontrar propagandas travestidas de história na internet. Por isso, é fundamental saber checar as fontes e pesquisar. E espero que nessa coluna o ajude a tal tarefa, trazendo de forma resumida os principais cuidados que você precisa ter no processo.

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Quem é o autor?

Esse é o primeiro item a ser considerado na metodologia de qualquer estudo sério, e não à toa: saber quem escreveu o artigo/livro é fundamental. Mas obviamente, você não está interessado apenas no nome do autor aqui, mas quem é o acadêmico por trás daquele nome.

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Se for um autor relevante, você com certeza vai encontrar biografias rápidas em alguma universidade que ele esteja vinculado, uma lista de obras publicadas, ou mesmo um bom artigo devidamente referenciado na Wikipedia que pode ser um pontapé para encontrar mais a respeito da vida acadêmica do autor, e o que falam sobre ele.

Onde foi publicado?

Geralmente universidades são ótimas editoras acadêmicas: todas as obras publicadas por elas passam pela revisão por pares (peer-review) e conselho editorial que avaliará os aspectos metodológicos e técnicos da obra. Então, editoras universitárias são um ótimo índice de relevância acadêmica.

Mas além das editoras universitárias, também existem editoras acadêmicas. Elas não são vinculadas a universidades (embora realizem parcerias com estas), mas suas obras passam pelo mesmo processo de avaliação editorial e revisão por pares antes da publicação. Um bom exemplo de editora acadêmica nacional é a editora Dialética, e exemplos internacionais são a Routledge e Palgrave Macmillan.

Data da publicação

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Esse ponto costuma ser muito desprezado em detrimento dos dois primeiros, e com uma certa razão: a data da publicação raramente terá a mesma relevância que um autor e o local de publicação. Mesmo assim, em muitos casos, a obra de um grande autor publicada numa grande editora pode se tornar praticamente invalida academicamente só pela data.

Vamos pegar um período histórico que tenho estudado e explorado muito nos meus canais, principalmente no Brasão de Armas: União Soviética. Ora, não precisa ser um grande estudioso para saber que havia um problema muito grande durante toda a existência da União Soviética: os arquivos soviéticos estavam completamente fechados para estudos independentes.

Em outras palavras, a menos que os documentos fossem escolhidos e fornecidos diretamente pelo regime, os historiadores não tinham qualquer acesso aos arquivos para estudar as dinâmicas do regime de forma transparente e informar ao público.

Havia um verdadeiro blackout de informações sobre o regime, e o que ia ao público era o que o regime permitia que fosse ao público. Felizmente, a situação mudou quando o regime soviético caiu, e milhões de arquivos foram abertos para os pesquisadores começarem a entender a verdade sobre o que foi a União Soviética depois de 70 anos de existência.

Reviews especializados de livros e artigos

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Já comprou algum livro e viu um monte de comentários na parte de trás dele? Essas são as chamadas reviews de livros ou artigo. É muito comum ver colunistas de jornais dando opiniões sobre livros. Isso significa que pessoas e veículos midiáticos (geralmente conhecidos no meio) leram a obra e deram sua avaliação sobre ela. Isso é ótimo porque além da revisão por pares que já acontece nas editoras acadêmicas, a obra ainda passa por mais avaliações. Entretanto, priorize as reviews acadêmicas, ou seja, especialistas que deram sua opinião sobre a obra em um artigo e publicaram em revistas acadêmicas, que também passaram por mais uma revisão por pares.

Número de citações

Esse é o último item no nosso checklist e o menos relevante comparado com os demais: se um artigo ou livro tem muitas citações isso pode indicar que ele seja relevante, claro.

Mas aqui vai uma série de problematizações que você precisa levar em conta ao verificar as citações: sua quantidade pode dizer muito pouco em vários contextos.

Em primeiro lugar, uma obra pode ter poucas citações porque ainda é uma obra recente, pouco conhecida pela academia. Também pode ser o caso de que o estudo é “nichado”, tendo assim o alcance reduzido a outros estudos acadêmicos.

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O oposto pode acontecer também: pode ser que uma obra tenha muitas citações porque o autor trouxe conclusões polêmicas onde muitos na academia estão discutindo negativamente os dados. Então, nunca use e nem descarte artigos apenas pelos números de citações.

Espero que esse simples checklist ajude o caro leitor a fazer boas pesquisas e verificar de maneira objetiva, e consciente, as informações que circulam por todos os lugares e ser ativo na construção do próprio conhecimento. O presente e o futuro do Brasil agradecem!