Era só a cultura deles? Certo. Falar isso hoje com um celular na mão e um sanduíche vegano na outra enquanto tira uma selfie para pagar o pedágio diário ao "beautiful people" é fácil; difícil seria alguém defender essa ideia enquanto era segurado à força por quatro homens ao mesmo tempo em que um quinto abria o peito da vítima com uma lâmina de pedra, arrancava seu coração com o órgão ainda batendo, e o colocava no altar de algum deus esfomeado.
Poucos povos desceram tão abaixo do nível de animais quanto os astecas, e olha que muitos povos agiram como animais: europeus, asiáticos e africanos tem as mãos bem sujas também. Em algum momento, todo grupo, tribo, povo ou nação deixa de ser humano e se torna só um ser; claro que existem indivíduos que estão num patamar que ninguém nunca alcançou e talvez nunca alcance: Hitler e Stalin dividem o primeiro lugar, fácil. Mas como povo, os astecas estão num nível pouco rivalizado na história humana quando o assunto é crueldade e selvageria.
Contudo, muita coisa do que a gente sabe deles vem dos espanhóis que conquistaram a região do México onde ficava o Império Asteca. E essa é a desculpinha esfarrapada número 1 dos guerreiros da justiça social quando o assunto são os indígenas americanos: "Ain, foram os europeus que inventaram essas histórias exageradas". Se uma coisa é certa na história é que tudo é narrativa. É fácil você montar um discurso para defender suas pautas, principalmente quando você tem uma justificativa tão forte quanto a de um "opressor" e de um "oprimido". Se você for bom em fazer pirraça e espernear em público, então... ganha a razão no berro, mesmo que não tenha razão nenhuma.
Eles também encontraram buracos no chão com intervalos de aproximadamente 1 metro de distância entre eles; com crânios espetados no que seriam postes com traves de fora a fora da construção.
Mas se tem uma coisa boa na Escola dos Annales é a busca pela "história problema" e a interdisciplinaridade que vem com ela. A história pode e deve ser compreendida à luz de outras ciências. Ainda bem, porque a arqueologia tem ajudado a rasgar muitos discursos ideológicos. E no caso dos nossos malvados favoritos em questão, essa ciência tem aberto nossos corações, no bom sentido da expressão.
Uma das descobertas mais recentes da arqueologia em terras astecas foi reveladora e surpreendente. Na antiga Tenochtitlan, capital dos astecas, hoje Cidade do México, foi encontrado uma espécie de armazém macabro onde os cientistas desenterraram centenas de crânios organizados e em forma de espiral. Eles também encontraram buracos no chão com intervalos de aproximadamente 1 metro de distância entre eles; com crânios espetados no que seriam postes com traves de fora a fora da construção.
Nesse estudo intitulado Feeding the Gods (Alimentando os Deuses), iniciado em 2015 e publicado em 2018 na revista Science, os cientistas descrevem através dos estudos dos crânios o procedimento usado pelos astecas naquele local: depois de passar por todos aqueles horrores torturantes como os que descrevi acima, as vítimas tinham membros arrancados e jogados escadaria abaixo; mulheres eram decapitadas enquanto dançavam; até crianças, sacrificadas a um deus específico, tinham a cabeça arrancada, e a pele e os cabelos eram cuidadosamente removidos por uma lâmina afiada de obsidiana. Depois, os crânios eram organizados em duas colunas enormes, em espiral, localizadas na extremidade do sítio ou colocados em travessões por toda a extensão do local, em diversos andares, exatamente como na foto que ilustra esse texto.
De acordo com as crônicas essa fábrica de crânios era conhecida como Tzompantli, e segundo a estimativa dos especialistas poderia ter abrigado dezenas de milhares de crânios sacrificiais.
Graças a esse estudo parece que uma das crônicas espanholas mais importantes escritas por Juan de Tovar falando especificamente sobre o Tzompantli e todo seu horror fornece realmente relatos acurados sobre até que ponto os astecas estavam dispostos a chegar para manter seus deuses bem alimentados e felizes.
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