O descobridor viking da América que ninguém conhece

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Mesmo com a popularidade da série Vikings, muita gente ainda fica surpresa de saber que os vikings foram os primeiros a chegar no nosso continente. O lugar de Colombo é sagrado demais para ser disputado. Mas, para sermos justos, não há mesmo qualquer evidência de que Colombo, ou qualquer outro europeu, ou qualquer outro povo em qualquer outro lugar do planeta soubesse dessa viagem dos vikings. Ela simplesmente foi esquecida na poeira do tempo; e pelos próprios vikings. Mas afinal de contas, que viking descobriu a América? Ora, se você é um fã de seriados sobre vikings está assistindo a Vikings Valhalla, já viu que o grande navegador Leif Eriksson é o descobridor do nosso continente, certo?

Errado! Aprender história assistindo a Vikings Valhalla é a mesma coisa de aprender biologia assistindo a Avatar. Então vamos logo dar um spoiler aqui, e sem pedidos de desculpas; afinal de contas, já é uma história bem velha: Leif foi o primeiro a pisar no continente americano, mas o primeiro a saber que ele existia, contar para o povo nórdico e inspirar a viagem de Leif foi um carinha pouco valorizado: Bjarni Herjólfsson.

E sabe como ele descobriu aquela terra nova? Um belo dia, no ano de 986 d. C., ele resolveu dar uma volta com alguns amigos em seu langskip, o famoso navio dos vikings. Mas depois de alguns dias de viagem em direção a Groenlândia, uma tempestade nervosa desvia o curso do navio para Oeste... Alguns dias depois Bjarni e sua tripulação fazem história: observam uma nova terra, mas resolvem não aportar. Preferem seguir viagem de volta para a Islândia e contar tudo para todos. E depois de ouvir essa história Leif Eriksson não sossegaria até conseguir pisar naquele lugar.

Agora, uma pausa porque precisamos fazer uma reflexão séria aqui: como é que pode? Hoje a gente não consegue ir na cidade vizinha sem GPS, e os caras há mil anos atrás se perdiam e descobriam um continente. Sou só eu, ou você também se sente mal com isso?

Em 1960, na localidade de L'Anse aux Meadows no Canadá, foi descoberta uma vila viking que data exatamente do período em que a Saga de Erik narra: metade do século X.

Saindo da nossa (ou apenas minha?) problematização existencial e voltando para a História, a gente sabe de todos esses detalhes curiosos e incríveis por causa de uma famosa saga, que era como os vikings chamavam suas histórias. Nesse caso específico, a saga de Erik, o Vermelho. E aí temos outro descobridor: Erik, e era "o Vermelho" porque era ruivo. Ele resolveu sair (ou foi expulso mesmo) da Islândia onde morava. Então ele e sua família resolveram navegar a Oeste. Depois de alguns dias... Descobriu a Groenlândia, nome que ele próprio deu ao lugar e pelo qual o chamamos até hoje. Um fato curioso: Erik era pai de Leif. Tal pai, tal filho.

E nessa mesma saga vemos o Bjarn avistando a América pela primeira vez, e vemos Leif Eriksson navegando com o mesmo navio usado por Bjarn para, pela primeira vez conhecer e explorar essa Terra Nova, assim chamada pelos vikings da época. Só tem um pequeno problema nisso aí: não foi o Erik e nem ninguém da época do Erik que escreveu essa saga. Ela foi escrita no século XIII, mais de 200 anos depois de tudo isso.

Isso tudo poderia ser apenas uma historinha nórdica, não fosse por uma outra ciência irmã da história: a arqueologia. Em 1960, na localidade de L'Anse aux Meadows no Canadá, foi descoberta uma vila viking que data exatamente do período em que a Saga de Erik narra: metade do século X. Ou seja, a arqueologia trouxe a História à vida e assim temos a combinação científica perfeita que prova de modo definitiva a chegada dos vikings na América 500 anos antes de Colombo.

Mas quando os vikings chegaram aqui, outros povos já habitavam esse continente... Nossos queridos índios, ou para os vikings, os Skraelingar. E como você acha que foi esse choque de civilizações, hein? Domingo que vem a gente conversa.

Thiago Braga

Thiago Braga é especialista em História da Guerra e Ciências Humanas: História, Filosofia e Sociologia pela PUCRS, Literatura Europeia e Língua Inglesa pela PUC Rio. Ele também é youtuber e criador dos canais “Brasão de Armas” e “Impérios AD”. **Os textos do colunista não expressam, necessariamente, a opinião da Gazeta do Povo.

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