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Thiago Braga

Thiago Braga

Entender a história da guerra é entender a história dos homens. Uma nova coluna todo domingo.

ONU

O embargo a Cuba tem que acabar!

(Foto: Aline Menezes com Playground AI)

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Mais uma vez a ONU, em sua Assembleia Geral em 30/10, se manifesta contra o embargo americano contra Cuba, e com razão. Cuba é um país fracassado em todos os aspectos econômicos e sociais. Além disso, já faz décadas que sabemos que as estatísticas de saúde e educação são fraudulentas, encomendadas (e forçadas) pelo governo às suas instituições.

Mas o embargo americano a Cuba não surgiu simplesmente porque Cuba era "socialista"; essa leitura simplória e rasa é típica de militantes socialistas. O embargo surgiu por questões diplomáticas complexas.

Para um aprofundamento sobre essas dinâmicas, basta assistir a um vídeo de uma hora no meu canal Brasão de Armas, recheado de documentos primários e estudos acadêmicos relevantes. Aqui, faremos um resumo breve dessas dinâmicas para o leitor.

O embargo começa em 1962 pelo governo Kennedy. Mas Fidel e Che estavam tranquilos: eles sabiam que, na Guerra Fria, se os Estados Unidos saem a União Soviética entra. E ela entrou não para ajudar, mas para sustentar Cuba!

Quando eu falo sustentar, era sustentar mesmo! Durante 30 anos, Cuba foi sustentada pela União Soviética. É isso que mostram dois artigos escritos pelo professor Carmelo Mesa-Lago. No primeiro: “Problemas socioeconômicos em cuba durante a crise”, o professor mostra como as políticas insustentáveis de Cuba agravaram a crise dos anos 90 e 2000. No segundo artigo, novinho em folha, publicado agora em 2023 pela Cambridge, chamado “Avaliação da performance socioeconômica de 2 modelos de economia socialista: Cuba (economia centralizada) e China e Vietnã (socialismo de Mercado)”, o professor faz um estudo comparativo bem interessante do progresso desses dois países comparados com Cuba. Enquanto a China e o Vietnã ajustaram suas políticas, permitindo que a propriedade privada movesse a economia, Cuba continua com seu planejamento estatal centralizado.

O professor segue mostrando que, mesmo que o embargo americano durasse mais em Cuba do que no Vietnã e na China, esses dois países foram devastados por décadas de guerra externa e interna.

Entre os vários dados interessantes que o professor mostra, está o de que, antes da Revolução, 52% do PIB cubano era dependente dos EUA, como a gente pode ver nesse seminário da “Associação para o Estudo da Economia Cubana”. O professor segue mostrando que, depois da Revolução (1960-1990), 72% do PIB cubano se tornou dependente da USSR, 20% a mais do que com os EUA no período pré-revolucionário.

E agora, indo para o Estudo comparativo de Mesa-Lago, vemos que durante os 30 anos de parceria, a USSR forneceu a Cuba $65 bilhões. O professor explica a dimensão colossal dessa ajuda: a USSR forneceu só a Cuba o equivalente ao triplo da ajuda total fornecida pelos Estados Unidos a toda a América Latina pelo plano “Aliança para o progresso da América Latina”, para se manterem próximos aos Estados Unidos e longe da USSR.

Também, com a União Soviética, Cuba conseguiu acordos vantajosos, exportando produtos acima do preço de mercado e recebendo abaixo do preço de mercado: o açúcar era vendido a sete vezes acima do preço do mercado, níquel a 50% acima; 99% do petróleo cubano era fornecido pela USSR abaixo do preço do mercado.

Mesa-Lago mostra ainda que foram 65 bilhões de dólares de ajuda não reembolsáveis de 1960-1990. E sabe quanto valeriam 65 bilhões de doletas em 1990 ajustados pela inflação hoje? 160 bilhões de dólares!

Ou seja, Cuba recebeu em apenas 30 anos, 30 bilhões a mais do que o valor total de 60 anos de embargo americano. Tanto que Yuri Pavlov, que era um embaixador soviético na América Latina, disse que “o relacionamento com Cuba foi o maior gasto individual da URSS num regime político amigável.”

O professor Carmelo segue mostrando que, depois que a União Soviética caiu, vieram os subsídios da Venezuela, que chegaram a 100 bilhões de dólares entre 2005 e 2017. Além disso, a maior parte da dívida externa de Cuba foi perdoada num total de 42 bilhões: nesse montante entram China e Rússia, os 22 países do Clube de Paris, de que o Brasil faz parte; o Japão perdoou, o Canadá também.

Cuba sempre teve um influxo de dinheiro absurdo, mas como todo o governo socialista irresponsável, Cuba era ótimo em gastar irresponsavelmente

Todas as melhorias em saúde e educação foram excessivas, acima do que Cuba era capaz de manter, principalmente por seus próprios meios.

É bonitinho ver um país esbanjando em saúde e educação, só fica feio quando o país quebra porque esbanjou em saúde e educação, e se lixou para a economia. É isso que o professor Mesa-Lago mostra no artigo “Problemas socioeconômicos de Cuba durante a Crise”: os gastos de Cuba nessas áreas foram excessivos! Aliás, o próprio Raúl, irmão de Fidel, admite abertamente que o governo foi improdutivo e gastou absurdamente com benefícios sociais ao longo das décadas, como podemos ver claramente no Sexto Congresso do Partido Comunista de Cuba: mas como era de se esperar eles também jogam a culpa nos Estados Unidos, claro.

Cuba, como todo país que algum momento tentou o socialismo, vive uma crise severa onde a única salvação, segundo eles próprios admitem, é a suspensão do embargo.

Esperemos que esse embargo seja totalmente suspenso o quanto antes, qualquer ajuda para o sofrido povo cubano será bem-vindo. Mas a suspensão desse embargo e a subsequente melhoria de Cuba mostrarão mais uma vez ao mundo que o último bastião do socialismo "raiz", não pode sobreviver sem o sistema capitalista dos outros.

Conteúdo editado por: Aline Menezes

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