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Thiago Braga

Thiago Braga

Entender a história da guerra é entender a história dos homens. Uma nova coluna todo domingo.

O que o pacto Molotov-Ribbentrop tinha de diferente dos outros acordos de não-agressão

Destaque para o sorriso de Stálin ao fundo (Foto: wikimedia commons)

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100% das pessoas que estudam minimamente a Segunda Guerra Mundial já leram alguma vez alguma coisa sobre esse tratado, então vamos fazer um resumão bem rápido do contexto aqui. Em 23 de agosto de 1939, Joachim von Ribbentrop, ministro de relações exteriores da Alemanha, foi até Moscou assinar esse pacto de não-agressão, no qual as duas nações concordaram em, advinha só, não se agredir.

Isso causou uma mistura de sentimentos nos soviéticos porque os nazistas eram os demônios pra eles, e de repente agora os soviéticos não iam mais combater seus demônios, e vice-versa. Mas, para muitos soviéticos, o tratado foi um alívio, porque a chapa tava esquentando na Europa entre Alemanha, França e Inglaterra. Assim, os russos poderiam ficar mais tranquilos longe dessa tensão toda. Se rolasse alguma treta, seria no Ocidente e não na Mãe Rússia.

Mas se você já tá ai xingando Stálin por ter assinado esse tratado de não-agressão com os nazistas, se contenha, menino: tratados de não-agressão eram coisas que já rolavam na Europa desde o início dos anos 30. Outros países europeus fizeram tratados de não-agressão com a Alemanha. De novo, o objetivo desses tratados de não-agressão era basicamente manter a paz entre certos países, enquanto eles arrumavam treta com outros. E aí a gente chega em 1938, um ano antes do Inferno: ninguém estava querendo guerra na Europa; só a Alemanha, que ameaçou invadir a Checoslováquia inteira porque tinha uma minoria alemã ali na região dos Sudetos. E, para a surpresa de Hitler, os ingleses e franceses lhe entregaram aquela região inteira porque não queriam guerra. Mas aí eles assinaram o Tratado de Munique, dando a Região dos Sudetos e até permitindo a anexação da Áustria, que já era uma demanda antiga dos próprios austríacos (que votaram desde 1918 pela anexação). Mas o Tratado de Munique dizia que os alemães não podiam tomar a Checoslováquia, o que Hitler fez em março de 1939. E aí o professor Antony Beevor, na sua obra A segunda guerra mundial (Record, 2015), página 20, diz que Inglaterra e França garantiram à Polônia que interviriam caso a Alemanha a invadisse, dando um recado claro a Hitler de que o problema ia estourar se ele invadisse a Polônia.

E em abril de 1939, Stálin ofereceu uma aliança à Inglaterra e França pra se ajudarem contra qualquer ataque estrangeiro, mas à página 29 o Prof. Beevor mostra que, embora a França estivesse a fim de fazer essa aliança, a Inglaterra era anti-comunista e não concordava com as ambições expansionistas da União Soviética em relação aos Estados bálticos, Finlândia e leste da Polônia. A Polônia, por sua vez, não queria deixar o Exército Vermelho se instalar dentro do seu país (uma das exigências de Stálin), porque os poloneses não confiavam nos comunistas por causa da guerra dos anos 20 com os bolcheviques e da inimizade declarada a partir da derrota dos bolcheviques. Ninguém confiava em ninguém, então os comunistas e os ocidentais ficaram num impasse.

E quem estava assistindo a tudo isso no camarote? Ele mesmo: Hitler! Espertamente, no início de agosto ele mandou Ribbentrop ir até Moscou para negociar um acordo pessoalmente com Stálin.

Para a surpresa de Ribbentrop, a visita dele foi mais do que esperada: os comunistas já estavam se preparando para oferecer um acordo com os alemães antes mesmo de os alemães cogitaram o plano. Tanto é que o primeiro registro soviético de uma movimentação pró-nazista apareceu no dia 3 de maio de 39, e o primeiro registro de intenção dos alemães só aparece pela primeira vez em 2 de agosto de 39, com Ribbentrop. À página 30, o Prof. Beevor relata essa movimentação macabra de Stálin. Notem o que Stálin já tava disposto a fazer aqui pra agradar o Führer, porque isso vai definir a sua abordagem com Hitler durante os dois primeiros anos da guerra: “Para Stálin, os benefícios tornavam-se cada vez mais óbvios. No dia 3 de maio, tropas do NKVD cercaram o comissariado para relações exteriores. 'Limpe o ministérios de judeus', ordenara Stálin. 'Limpe a sinagoga'. O veterano diplomata Maxim Litvinov foi substituído por Molotov como ministro do Exterior e alguns outros judeus foram presos.” Stálin, começou um expurgo de judeus para se preparar para o pacto com Hitler.

Então, alemães e soviéticos queriam a mesma coisa e estavam se dando melhor entre si do que com as democracias ocidentais. Em 23 de agosto de 1939, eles assinam o imoral pacto nazi-soviético, vulgo Pacto Molotov-Ribbentrop, ou, como eu costumo chamar, o pacto demo-diabólico. “Mas você disse que tratados de não-agressão eram comuns, então qual o problema dos camaradas terem feito um acordo com Hitler?” Fico feliz que você tenha perguntado isso! O problema não foi o tratado de não-agressão, não; não querer guerra com outros países é até uma coisa bonitinha mesmo. Então ninguém pode condenar a União Soviética por não querer guerra com a Alemanha, porque, como eu já disse, outros países europeus também fizeram seus pactos de não-agressão ou de apaziguamento pra evitar a guerra total. O problema é que esse pacto nazi-soviético só foi o início de uma série de pactos e protocolos secretos. Secretos mesmo, sabe? Se a União Soviética existisse até hoje, estaria negando e mentindo pra você, dizendo que é tudo propaganda nazista, como fazem esses filhotes de ditadores comunistas fazem.

O que muita gente ainda não sabe, e praticamente ninguém na USSR nem no mundo soube por todas as décadas até a queda daquele regime maldito, é que esses protocolos secretos quase levaram Stálin para o Eixo... Só não levou mesmo porque Hitler tinha outros planos para a mãe Rússia, e o plano se chamava "Barbarossa!"

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Conteúdo editado por: Bruna Frascolla Bloise

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