Hoje, a história tem sido usada para validar ideologias.| Foto: Aline Menezes com Leonardo AI
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A resposta vai depender muito para quem você pergunta. Por exemplo, veja alguns comentários do meu vídeo recente no canal Brasão de Armas “Roma gay: uma fake News histórica”. Foi um excelente vídeo com um ótimo engajamento do público, onde problematizo a fala do professor Leandro Karnal a respeito da homossexualidade na Roma antiga. Mas alguns comentários no meu vídeo foram preocupantemente “reveladores” - uma minoria, felizmente, mas historicamente sabemos como uma minoria pode fazer barulho e mudar as coisas.   

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“Ok, você refutou o argumento do professor, apresentou alguns fatos e tudo bem a dinâmica do diálogo tá super válido. A minha pergunta é: qual o intuito? Devemos então normalizar o preconceito, a homofobia, já que no passado era normalizada.” Eis mais um comentário na íntegra: “Que vídeo mais desnecessário! Com o Brasil sendo um dos países que mais mata e maltrata LGBT’s você com certeza se mostrou um ótimo carrasco.”

Tenho certeza de que o leitor já identificou uma série de “problemas” nesses dois comentários. Mas os dois comentários apresentam algo em comum: o desprezo pelo estudo histórico e evidências em substituição de movimentos de “justiça social”. 

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Uma pergunta já desbanca esse disparate: o que a história tem a ver com esses movimentos modernos?! Há alguns anos essa pergunta traria à tona o bom senso e a lógica, mas hoje em dia ela é extremamente ingênua.

Hoje, a história tem sido usada para validar pautas políticas e sociais

A pergunta que muitos se fazem ao buscar determinados períodos históricos não é mais “como determinados povos viviam?” Agora é “como posso usar a história para validar minha vida?”.

Ora, “evocar” a Grécia e a Roma Antiga para apoiar suas pautas é uma validação e tanto: toda a sociedade ocidental, desde as elites até a classe mais baixa (mesmo que apenas por meio das mídias), têm pelo menos uma noção do peso que essas civilizações tiveram no nosso mundo. 

Então, é uma jogada de mestre dizer que naquele período de ouro, seu modo de vida era visto como normal, e que com a chegada do cristianismo é que tudo virou de cabeça para baixo.

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O mesmo aconteceu ao longo dos anos com a história dos povos islâmicos que invadiram a Península Ibérica no século VIII Depois de Cristo: para validar as pautas em defesa da imigração em massa de muçulmanos, políticos (Obama entre esses) faziam discursos evocando um período em que cristãos e muçulmanos conviveram em paz na Península Ibérica por séculos. Entretanto, “turbulência” (citando aqui o renomado professor Richard Fletcher) e não “convivência” marcou aqueles séculos de invasão islâmica na Península.

Portanto, citando novamente o professor Fletcher, “nostalgia é o grande inimigo da compreensão histórica” e ela deve ser combatida principalmente quando o objetivo é politizar e “normalizar” coisas que para os antigos que viveram lá estavam longe de serem normais.