Cristãos e muçulmanos estão frente a frente na decisiva Batalha de Ourique, a primeira da história portuguesa. Como dissemos nas últimas duas colunas, as informações a respeito dessa batalha são um pouco escassas e mais tardias. Contudo, alguns detalhes importantes chegaram até nós com alguma precisão, como por exemplo as armas e armaduras usadas por ambos os lados. Embora, obviamente, não seja possível sermos categóricos, podemos ter uma boa ideia do que tanto cristãos como muçulmanos no período tinham à sua disposição.
Na metade do século XII, a esmagadora maioria dos guerreiros lutava a cavalo. Essa estratégia militar se tornou a mais famosa e usada pela nobreza europeia, uma herança deixada pelos templários. O cavalo era uma arma na mão do cavaleiro; e manuais militares como a Regra Latina, escrita já nesse período, ensinam as técnicas de como lutar assim. Na arte da guerra cavaleiresca, cavaleiros usavam lanças e espadas sobre o cavalo contra outros cavaleiros que usavam as mesmas armas, ou contra inimigos de infantaria mesmo. Diferentes dos mongóis, que, com seus pôneis endiabrados, tocavam o terror com seus arcos recurvos e leves. Quanto aos cavalos, armaduras para os pobres bichos no século XII eram inexistentes; no máximo, havia um tabardo pra identificar o cavalo e deixá-lo mais no "estilo".
Muitos iam até sem armadura mesmo, só com o jaquetão e um capacete meia boca
Ainda sobre os cavaleiros, eles usavam essencialmente a mesma armadura usada nas primeiras Cruzadas: grandes elmos e capacetes normandos eram a norma. Blusões de malha vestidos sobre jaquetões amorteciam o impacto e o peso da malha; e, por cima de tudo, o cavaleiro usava seu brasão de armas que o identificava no meio de tantos guerreiros. Aquelas lindas pinturas em suas túnicas tinham um significado apurado e especial, uma quase ciência artística, regida pelas leis da heráldica.
Os guerreiros de infantaria também usavam cota de malha. Conseguiam por meio de saque após batalhas, ou compravam de segunda mão, e aí imaginamos que a qualidade não deveria ser tão boa assim. Na verdade, muitos iam até sem armadura mesmo, só com o jaquetão e um capacete "meia boca", e talvez (muito talvez) um escudo redondo ou um maior em forma de pipa, chamado de kite shield. Não preciso dizer que os nobres cavaleiros tinham todos esses itens; e todos da melhor qualidade.
Nesse período as lanças eram as armas mais usadas porque eram as mais baratas e fáceis de fazer, além de serem bem eficientes. Mas as espadas eram muito presentes. Nessa época as espadas de uma mão eram as mais usadas, até porque o escudo era indispensável nesse período. Assim, as espadas tinham que ser de uma mão mesmo, usada na direita obrigatoriamente, enquanto a mão esquerda segurava o escudo. Ninguém tinha o direito de ser canhoto na Idade Média. Arqueiros também eram bem usados na Península Ibérica nessa época, por ambos os lados.
Outro detalhe importante estava na alimentação: muita carne, peixe, pão, legumes... A alimentação, mesmo a dos pobres camponeses, era muito mais diversificada do que costumamos pensar. Eles comiam, e treinavam... E muito. Estudos mais recentes publicados por revistas especializadas na Idade Média, como a Journal of Medieval Military History, têm revelado por meio de crônicas e relatos da época como a Regra Latina dos templários influenciou a arte da guerra cavaleiresca, em conjunto com manuais de esgrima posteriores. A influência dos templários em toda a Europa Ocidental fez com que os cavaleiros por todo o continente adotassem seus hábitos de treino, cuidados com as armas e fervor religioso.
Quanto aos mouros, eles sempre foram conhecidos por sua infantaria mais leve, tipicamente oriental. De acordo com o professor Martin Daugherty na sua obra The Medieval Warrior (O Guerreiro Medieval), os mouros de maneira geral estavam equipados com uma espada curta e curva, um escudo redondo menor e pouquíssima ou nenhuma armadura, e quando usavam, também era a cota de malha e um capacete cônico, com proteção nasal. De acordo com o professor, a infantaria mais leve permitia que os mouros fizessem ataques mais rápidos e desestabilizadores, mas ao mesmo tempo ficavam mais vulneráveis e tinham muito mais baixas nesses ataques contra a infantaria mais pesada europeia.
Agora, os cavaleiros de Cristo e os soldados de Maomé estão prontos para começar a batalha que mudaria o destino da Península Ibérica, principalmente de um pequeno e frágil condado que mudaria o mundo, conhecido desde o Império Romano como Portus Cale.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS
Deixe sua opinião