Respondendo à pergunta que deixei no final da coluna anterior, se Cuba pagou o que tomou dos Estados Unidos depois da Revolução: tenho certeza que o nobre assinante já deu sua resposta antes da minha: NÃO, e bem grande assim mesmo!
Vamos novamente ao artigo do professor Ashby, que citamos anteriormente. Na p. 416 ele deixa claro que Cuba ofereceu valores extremamente baixos pelas propriedades expropriadas, por exemplo, o Chase Manhattan Bank e seus escritórios tinham sido avaliados em 7,5 milhão de dólares, mas Cuba avaliou o preço final em 54 mil dólares. Em 1960 a United Fruit Company tinha sido avaliada em 90 milhões, mas Cuba disse que ela valia 17 milhões; ou seja, Cuba avaliou os bens da empresa em 19% do seu valor real. E pra piorar, Cuba queria pagar em títulos, os americanos queriam em dinheiro. Um detalhe interessante é que toda a negociação foi feita pelo governo americano e suas empresas, porque as empresas americanas no estrangeiro estão subordinadas ao Departamento de Estado pela política de relações exteriores. Por lei, as negociações são feitas com as empresas em conjunto com o governo americano, de modo que o governo americano sempre participa dessas decisões, para mediar os interesses da empresa e os do Estado também, como a gente vai ver mais à frente.
A partir daí, foi só ladeira abaixo: o professor Leogrande, no seu artigo “Sanções Econômicas dos Estados Unidos contra Cuba” na p. 941 diz que “a casus belli que estourou a guerra econômica entre Estados Unidos e Cuba foi o petróleo soviético, que passou a fluir ali no início de 1960.” A Primeira remessa de petróleo chegou em abril de 1960, e advinha onde o Fidel mandou refinar o petróleo? Nas americanas Standard Oil Company e Texaco, que aqui no Brasil a gente chamava carinhosamente de Texaco.
As datas são importantes para entender o contexto aqui: a invasão à Baía dos Porcos só aconteceu em abril de 1961; o “embargo total”, em 1962. Os estudos são unânimes em mostrar como o governo cubano foi o primeiro a cuspir na cara da diplomacia americana.
Mas advinha só: as empresas se recusaram a colocar petróleo soviético nas suas refinarias. Imagina passar aquele petróleo soviético sujo e imundo nas máquinas americanas! Mas aí sabe o que Fidel fez? Nacionalizou todas as refinarias. Imediatamente Eisenhower respondeu cancelando a cota de açúcar de Cuba, que correspondia a 20% do PIB cubano. Fidel respondeu nacionalizando todo o resto de empresas e escritórios de negócios americanos. Em resposta, Eisenhower proibiu todas as exportações pra Cuba, exceto comida e remédio. Em resposta, Fidel toma as últimas 167 firmas americanas. Quem se aproveitou dessa escalada foi Khrushchev, que se ofereceu comprar toda a cota de açúcar negado pelos Estados Unidos, e num comunicado interno Khrushchev disse que essa treta levaria Cuba para o lado soviético como “um ferro é puxado pelo imã.” E em setembro de 1960, em uma conferência da ONU, Fidel fez um discurso chamando o presidente Kennedy, senador na época, de “milionário analfabeto”. Mais um estudo mostrando como Fidel e seus comparsas foram os primeiros a arrumar treta com os ianques!
Aí não teve jeito né? Os americanos partiram pra invasão... Que nada, enquanto Cuba estava curtindo a farra das expropriações desde 1959, a Invasão da Baía dos Porcos só aconteceu em abril de 1961, ou seja, mais de 2 anos depois de começar a tomada total das empresas americanas, se declarar inimiga dos EUA e assinar um acordo político e comercial com a União Soviética: tudo isso aconteceu entre 1959, 1960 e início de 1961. Nesses dois anos, Cuba tomou 1.8 bilhão de dólares, o equivalente a mais de 18 bilhões de dólares hoje. Então as datas são importantes para entender o contexto aqui: a invasão à Baía dos Porcos só aconteceu em abril de 1961; o “embargo total”, em 1962. De novo, os estudos são unânimes em mostrar como o governo cubano foi o primeiro a cuspir na cara da diplomacia americana.
Não há dúvidas de que atitude americana é diplomática quando o novo governo surge: prova disso é que os EUA reconhecem oficialmente o governo cubano já no dia 7 de janeiro, apenas 7 dias da tomada do poder de Fidel. Mas em 1959 Fidel era só um moleque de 33 anos que de repente tinha subido ao poder, começou a se achar um machinho, crendo que podia peitar a maior potência mundial: começou a expropriar tudo já em maio e junho, não pagou; e, pra piorar, em fevereiro de 1960 Cuba assina o tratado de comércio com a União Soviética. E só em março de 1960, Einsenhower aprova o plano para “invasão da Baía dos Porcos, que só aconteceria no ano seguinte”. E com a entrada da União Soviética em Cuba, o bicho pega: porque a gente tá no auge da Guerra Fria. Ou seja, além de Cuba tomar todas as propriedades americanas e não pagar por elas, ainda fez um acordo comercial e político com o maior inimigo dos EUA. Fidel tava ou não tava querendo levar um embargo no meio da cara?
E aquele papinho de que Cuba queria sair pagando vários melões para as empresas expropriadas: a comunada gosta, mas é mentira! O artigo do professor Ashby na p. 421 mostra como Cuba era um péssimo pagador, porque todas as outras empresas de outros países que também foram expropriadas nos anos 60 só receberam uma miséria do seu valor devido, e só nos anos 90. A Espanha tinha uma reivindicação de 350 milhões, mas só recebeu 40 milhões, e isso quase 30 anos depois de Cuba tomar as propriedades espanholas. O autor diz que, no caso do Canadá, o pagamento foi tão baixo que era correspondente a uma “fração de centavo” do valor real. E aí, quem que você acha que era melhor pagador, Fidel ou o Seu Madruga? No próximo artigo vamos ver porque o governo cubano é o maior responsável pela situação calamitosa de seu país.
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