Essa batalha tinha tudo para ser um verdadeiro massacre! Seis mil portugueses contra 30 mil castelhanos; uma disparidade numérica insuperável. Mas Dom João I, seu fiel cavaleiro Nuno Álvarez Pereira e os homens-de-armas portugueses estavam firmes como uma parede na frente daquele colosso castelhano. Como disse em meu artigo anterior sobre o contexto que levou a batalha, a nata da cavalaria castelhana e francesa estava em marcha. Castela não estava de brincadeira: se Portugal tivesse que ser um dia conquistado, aquele tinha que ser o dia. Os portugueses sabiam disso; eles estavam prontos para resistir até o último homem.
Mas por mais corajosos e determinados que os portugueses se mostrassem diante da máquina de guerra inimiga, 3 fatores foram tão ou até mais determinantes que a vontade de aço lusitana: liderança, inteligência e estratégia. Essas “musas” da arte da guerra funcionaram como uma engrenagem perfeita em Aljubarrota, e sem elas os portugueses hoje estariam falando espanhol, isso se ainda houvesse Portugal. O mesmo vale para nós, brasileiros, se houvesse Brasil.
A liderança é o suprassumo em toda a história da guerra: sem grandes líderes, grandes vitórias são praticamente impossíveis. E grandes líderes Portugal teve. Começando pelo mais óbvio de todos, D. João I. Como aspirante a rei, ele era a figura central da batalha: o povo lutava por ele e ele lutava pelo povo, e todos lutavam por Portugal. D. João I lutou pessoalmente na Batalha de Aljubarrota. No entanto, não haveria trono para João reinar se não houvesse primeiro a vitória, e só um cavaleiro seria capaz de dar essa vitória a Portugal: Nuno Álvares Pereira. Nos jogos de guerra, ele era o melhor que Portugal tinha. Aljubarrota seria a batalha de Nuno.
Agora vamos a segunda “musa” da batalha: inteligência. A Batalha de Aljubarrota é uma das poucas batalhas campais planejadas que temos notícias durante toda a Idade Média. Geralmente, as batalhas aconteciam de surpresa ou por enganação. O lado invasor queria ter o fator surpresa do seu lado; as batalhas são mais fáceis quando seu alvo não está preparado. No entanto, João de Castela não tinha motivos para ocultar suas intenções. Ele sabia que Castela era muito superior militarmente no campo de batalha. Aliás, quando um exército inimigo era muito superior ao outro, era comum o mais forte revelar sua intenção de conquista para intimidar o outro exército e conseguir dissidentes a seu favor. Mas entregar de bandeja essa “inteligência”, ou em termos simples, informações relevantes e úteis para o planejamento inimigo, foi um erro que Castela amargaria para sempre.
Os que tentaram se esconder foram mortos até mesmo pelos civis das rodondezas da batalha.
E aí chegamos na nossa terceira musa militar: a estratégia. Com a inteligência adquirida, os portugueses não perderam tempo e planejaram o que seria melhor para lidar com aquele terremoto castelhano. E contra um número tão grande a vitória só seria possível com o mestre das estratégias: o terreno. Os portugueses escolheram cuidadosamente o terreno onde a batalha aconteceria. Em uma batalha planejada, o exército atacante tinha que aceitar o lugar escolhido pelo defensor. João e Nuno optaram então por uma freguesia humilde conhecida como Aljubarrota, relativamente afastada de Lisboa, mas não longe o bastante a ponto de dificultar a logística do exército. Aljubarrota parecia ser o chão da salvação portuguesa, é para lá que os tugas vão e os castelhanos também.
Os portugueses têm pressa. Eles começam a preparar o terreno com armadilhas que pegariam o exército castelhano de surpresa, entre elas as temíveis covas-de-lobo que fariam os cavaleiros castelhanos caírem com cavalo e tudo. Mas a vantagem principal do terreno escolhido pelos portugueses era sua elevação. Os portugueses ficaram numa colina relativamente alta, o que dificultaria muito o avanço castelhano. Os portugueses, em especial os nobres, estão armados com as famosas armaduras de placa, espadas, alabardas e bestas. Lembra dos ingleses? 200 deles estão escondidos nos flancos, prontos para descarregar toda a fúria dos seus arcos longos sobre os castelhanos, principalmente sobre os franceses, seus arqui-inimigos que também estavam lá.
Quando os castelhanos chegam, sedentos pela vitória e ansiosos para provar seu valor, eles veem os portugueses como presas fáceis e encurralados no topo da colina. A carga de cavalaria faz o chão tremer: centenas de cavaleiros avançam, mas centenas são “sugados” pelas covas-de-lobo levando a morte ou incapacitando a maior parte deles. Agora eles só têm uma alternativa: subir a pé. Quando chegam no topo do morro, eles são recebidos com uma chuva de flechas dos ingleses, acompanhados pelos besteiros portugueses. As centenas de baixas do lado espanhol, fazem o exército entrar em desespero. Mesmo assim, eles tentam cercar os portugueses com seu maior número, mas Nuno, um gênio militar, já tinha preparado seu exército com uma tática usada desde o Império Romano: a tática do quadrado, ou retângulo, dependendo do ponto de vista. Com as quatro paredes reforçadas por uma infantaria pesada, os portugueses terminam de liquidar os castelhanos. As crônicas da época, como a famosa Crônica de Jean Froissart, nos dizem que a batalha durou apenas 30 minutos.
Agora os castelhanos só têm uma alternativa: fugir. Os que tentaram se esconder foram mortos até mesmo pelos civis das rodondezas da batalha. E nenhuma civil foi tão famosa quanto Brites de Almeida, a padeira de Aljubarrota. Ela sozinha teria matado 5 castelhanos com uma pá. Se essa história é verdade ou mentira a gente não sabe; mas é legal demais imaginar uma padeira nervosa arrebentando seus inimigos só com uma pá. Aliás, se você quiser saber mais sobre essa batalha, eu fiz um vídeo especial no meu canal Brasão de Armas no YouTube mostrando cada detalhe desse confronto épico.
Depois dessa batalha Castela entrou em colapso. Cerca de 5 mil castelhanos morreram; um número enorme levando em consideração uma batalha medieval. O rei D. João I de Castela decretou luto de 2 anos no reino por essa derrota. Portugal foi salvo, graças ao esforço e determinação de D. João I, Nuno Álvares Pereira e os valentes homens de armas portugueses. D. João I, o bastardo, torna-se rei de Portugal dando início a dinastia de Avis, a grande responsável por iniciar o projeto ousado que faria o mundo ser um só, pela primeira vez na história: as Grandes Navegações. Os portugueses na Batalha de Aljubarrota fizeram uma exclamação, e sem saber, escreveram o passado, o presente e o futuro da história humana.
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