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Thiago Braga

Thiago Braga

Entender a história da guerra é entender a história dos homens. Uma nova coluna todo domingo.

Acredite se quiser: Stálin já foi um democrata

Conheça Stálin, o moderado! (Foto: wikimedia commons)

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Comunistas têm um comportamento esquisito: todos eles amam Lênin; ele é quase um semideus (ou o filho de Deus, levando em consideração que Marx é o pai dessa religião). Quando o assunto é Stálin, o negócio fica mais esquisito: ele é amado ou odiado; depende muito se o comunista se diz marxista-lenista, ou marxista-trotskista, ou leninista-trotskista, ou sei lá o que mais “-ista” que podem dizer que são.

No caso dos comunistas stalinistas, é vergonhoso o malabarismo que fazem para reabilitar Stálin na História. Já os que se denominam “trotskistas” condenam Stálin e sua barbárie, o que torna essa vertente do comunismo menos pior do ponto de vista moral. O problema é a luta que eles empreendem para distanciar Lênin de Stálin: este último seria o traidor da Revolução que aquele liderou. O problema é que, quando a gente sai de discussões abstratas e deixa de lado a panfletagem propagandística da época, a experiência mostra uma continuidade clara entre o modus operandi de Lênin e Stálin.

Indo direto ao ponto: Lênin e Stálin foram duas faces da mesma moeda. Certamente algumas coisa chegarão a surpreender alguns leitores. E talvez a frase a seguir seja a prova: No princípio, Stálin era um democrata moderado. Você não leu errado, não. Lênin foi o responsável por radicalizar Stálin. Aliás, os bolcheviques de apartamento ficam serelepes agora porque acham bonitinho dizer que são radicais, porque querem atacar a raiz do problema. O problema é que como você vai ver aqui, no final comunista ataca tudo, menos a raiz do problema. A propósito, você pode ver o estudo completo que resumo no meu canal Brasão de Armas em um vídeo de duas partes, nas quais mostro os estudos mais relevantes sobre esse assunto.

Mas para entendermos isso bem, vamos começar logo com um estudo recente, publicado em 2015 pelo historiador russo Oleg Khlevniuk: Stálin, uma nova biografia. É uma nova biografia mesmo, porque esse estudo traz avanços importantes para entendermos melhor essa peste. Nesse estudo, uma coisa chegou a me tirar o sono: até o início de 1917, Stálin era um revolucionário moderado, que acreditava na Revolução de Fevereiro e nas eleições que viriam na Assembleia Constituinte. Já imaginou ler isso em algum lugar? Stálin moderado! É por isso que a gente não pode ficar só lendo livro velho da década de 60, 70 ou 80, principalmente escritos por comunistas, pois a chance de o estudo dar muito errado é muito grande. Muita coisa mudou com a abertura dos arquivos soviéticos; milhões de novos documentos mostram o que antes era escondido. Então se atualize com estudos novos por favor, principalmente depois de 1990.

Nesse estudo, uma coisa chegou a me tirar o sono: até o início de 1917, Stálin era um revolucionário moderado, que acreditava na Revolução de Fevereiro e nas eleições que viriam na Assembleia Constituinte.

Mas então, o lance é que todo mundo sabe que, moderado, Stálin não continuou. Mas aí você me pergunta: “quem foi o responsável por radicalizar Stálin?” Fico feliz que você tenha perguntado isso: começa com “Lê” e termina com “nin”. Mas vamos deixar o professor Khlevniuk explicar que negócio é esse de que Stalin já foi moderado. Na p. 63, ele dá o contexto da revolução popular de fevereiro, que foi uma revolução espontânea de verdade, diferente do golpe de outubro, que foi um golpe liderado pelos bolcheviques. Nesse contexto, o professor diz que “embora Lênin e muitos outros proeminentes bolcheviques permanecessem na Suíça, Kamenev e Stálin desempenharam um papel importante na liderança do partido na Rússia. Depois de chegar a Petrogrado, eles essencialmente assumiram o controle do jornal bolchevique Pravda e usaram-no para promover uma agenda moderada, baseada na crença de que a ascensão da burguesia liberal ao poder estava de acordo com os ditames da História, e que o socialismo era uma perspectiva de longo prazo. O jornal proclamou apoio condicional ao Governo Provisório. Como membros da Liderança soviética de Petrogrado, Kamenev e Stalin interagiam estreitamente com outros socialistas. Os bolcheviques estavam iniciando negociações para unir forças com a ala esquerda menchevique.” Mas como você já sabe, Lenin ficou com a cara quente com isso, e chamou Stálin e Kamenev no “esporro”, e da Suíça mesmo. O professor Khlevniuk explica no parágrafo seguinte que “Lênin, insatisfeito com a linha política promovida pelo Pravda, exigiu slogans diferentes. Escrevendo desde a emigração, ele defendeu uma abordagem radical clara, declarando guerra ao Governo Provisório e defendendo a revolução socialista. Kamenev e Stálin trabalharam juntos para impedir estes ataques. Eles editaram intensamente um artigo enviado por Lênin antes de publicá-lo no Pravda. Muito provavelmente, eles de fato não entenderam as intenções de Lênin e presumiram que seu radicalismo era devido a estar fora de contato com o que realmente estava acontecendo no país.”

Stálin moderando, meu Deus do céu... Quem diria! E Lênin cuidaria pessoalmente do treinamento de Stálin para ser o futuro grande líder da União Soviética. Fique tranquilo, que eu cuido pessoalmente de te contar isso na próxima coluna.

Conteúdo editado por: Bruna Frascolla Bloise

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