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Thiago Braga

Thiago Braga

Entender a história da guerra é entender a história dos homens. Uma nova coluna todo domingo.

Um tsunami português avança para o mundo islâmico

Galeões portugueses em Diu, Índia
Uma batalha pelo mundo estava prestes a começar (Foto: wikimedia commons)

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Se os muçulmanos soubessem a fúria que estavam prestes a descer sobre eles, certamente eles não teriam feito aquilo. Deixe-me contar essa história desde o início. O ano era 1508. Portugal tinha chegado às Índias fazia poucos anos e ainda não havia feito amigos por lá; na verdade, os europeus também não queriam amizade com ninguém. Eles eram pragmáticos; passaram quase um século tentando chegar às Índias com um objetivo muito claro: especiarias. Mas como você já viu (ou poderá ver) em outro artigo que escrevi aqui na Gazeta do Povo, as coisas desandaram totalmente por lá desde o primeiro ano: os muçulmanos provocaram um monstro que nem Vasco e nem Cabral sabiam que tinham em suas mãos. Esse monstro era conhecido como marinha portuguesa.

A partir dali as coisas só eram resolvidas na bala e foi exatamente isso que um jovem capitão português de apenas 28 anos chamado Lourenço de Almeida acabaria por fazer. Ele foi encarregado pelo vice-rei português de fazer uma incursão e dominar uma cidade costeira da Índia chamada de Chaul. A missão de Lourenço era importante pois os navios portugueses estavam sempre sendo atacados pelas cidades e reinos indianos e mamelucos da região, pois estavam sempre em muito menor número. Portugal tinha ciência de que não podia se dar ao luxo de ter tantos prejuízos financeiros com a captura e até destruição de seus valiosos navios.

Os muçulmanos provocaram um monstro que nem Vasco e nem Cabral sabiam que tinham em suas mãos

Assim, Lourenço de Almeida se desloca para Chaul com 8 caravelas pequenas. Esse parece um número baixo levando em consideração que os portugueses estavam cercados de inimigos furiosos e implacáveis de todos os lados, em terra e no mar. Contudo, na primeira década de 1500 Portugal ainda precisava racionar seus navios que já estavam aportando no Brasil, África e Índia. Então, mesmo com o limitado número de oito navios Lourenço parte para cumprir sua missão, com fé em Deus e em Jesus Cristo. Aqui preciso colocar Deus e seu filho na história porque para os portugueses da época eles eram realmente mais importantes que seus navios e canhões; eles os viam como se estivessem à frente de seus navios.

Enquanto avançava em direção a Chaul, Lourenço e sua pequena frota é interceptada por oito galés de guerra muçulmanas: o sultanato mameluco do Egito aliado à cidade indiana de Guzarate já sabia da chegada dos portugueses e arma uma emboscada. Quando eles estão próximos de aportar os navios inimigos disparam seus canhões para intimidar os europeus. Os portugueses estavam cercados. Isso porque uma tática muito comum dos muçulmanos era usar o fator surpresa fazendo com que os navios portugueses chegassem o máximo possível perto da costa para poderem usar seus canhões terrestres e de seus navios contra os europeus.

Lourenço achava que não tinha alternativa, senão lutar. E é isso que ele faz. De seu navio ele começa o contra-ataque com seus canhões e arcabuzes, infligindo grandes dano às galés inimigas. Os muçulmanos também começam a revidar com seus navios. Mas, segundo as crônicas da época, não era isso que os muçulmanos queriam. De acordo com o historiador Roger Crowley em seu livro Conquistadores, eles sabiam que ali estaria o filho do vice-rei português, e sua intenção era capturá-lo para barganhar seu resgate com ele. No entanto, no confronto, uma bala de canhão atinge Lourenço que é jogado no mar; com o peso de sua armadura ele afunda e nunca mais é visto. Os muçulmanos vencem a Batalha de Chaul em 1508, mas amargam perdas enormes. Apesar dos 80 portugueses que morrem; do lado muçulmano as baixas chegaram a 700.

Não havia motivo nenhum pra comemorar. Eles sabiam que a verdadeira e decisiva batalha ainda estava para acontecer quando recebem uma carta do vice-rei português, conhecido como Francisco de Almeida. Pelo sobrenome, os muçulmanos e você já devem saber de quem se tratava. Em sua carta, ele não esconde seu pesar: “vocês mataram um homem conhecido como meu filho ...” e ele a conclui com uma espécie de enigma macabro que só aqueles muçulmanos que participaram na batalha seriam capazes de entender: “Vocês comeram o frango, agora vão ter que comer o galo.”

Conteúdo editado por: Jônatas Dias Lima

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