O ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), que aconteceu no último fim de semana, trouxe, mais uma vez, uma polêmica à tona. Uma questão na prova de ciências humanas e da natureza utilizou uma charge do cartunista baiano Djalma Pires Ferreira, que assinava como Théo, com a palavra gasolina grafada com Z. Nas redes sociais, a questão quase virou um meme, com comentários – muitas vezes maldosos – alertando para o fato de que o ENEM trouxe uma grafia errada na prova ou “ensinava” uma nova maneira de escrever “gasolina”.
Duas questões devem ser analisadas: a questão histórica e a questão da fidelidade ao se publicar um documento original. Vamos à primeira questão. Segundo a Academia Brasileira de Letras, a palavra gasolina, em 1899, por influência de sua etimologia francesa (gazoline/ gazolène), foi grafada com Z. No entanto, desde 1933, é grafada com ‘s’ no Brasil. No caderno de provas, a charge não tinha referência do ano de criação – apenas referência do ano do livro do qual foi retirada (Uma história do Brasil através da caricatura: 1840-2001), que é de 2001.
A partir desse ponto, podemos ir para a segunda questão a ser analisada: quando publicamos algo na íntegra (seja em texto ou imagem), é correto e, acima de tudo, ético, manter seu formato original, principalmente quando referenciado, como é o caso da prova.
É claro que um “erro” como esse chama atenção na avaliação, especialmente no ENEM, que é vítima, todos os anos, de uma procura insana por furos e problemas, fruto de um início equivocado que já gerou, inclusive, reimpressão de provas e nova data de realização, como aconteceu em 2010. No entanto, nesse caso, a polêmica é infundada. Ainda que a escrita da palavra seja com S desde 1933, é evidente que a publicação da charge seguiu critérios importantes para qualquer tipo de publicação: respeito ao original e inclusão dos devidos créditos.
Pensando pelo lado positivo, a questão trouxe à mídia um pouco mais da história da nossa língua, sempre tão importante de ser conhecida, mas não pode, de forma alguma, ser considerada um erro ou uma falha por parte de quem elaborou a prova.
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