(atualizado às 9h13 de quarta-feira)
A gripe A voltou a modificar alguns hábitos em igrejas católicas, assim como tinha feito no primeiro grande surto da doença, três anos atrás. Uma notinha publicada na Gazeta do Povo de sábado diz que, em algumas paróquias no interior de São Paulo, a entrega da comunhão na boca foi suspensa, não há mais o rito da paz e as orações não são mais feitas de mãos dadas. Curioso não terem feito nenhuma menção à água benta; lembro-me que, na catedral de Curitiba (agora fechada para restauração), ela sumiu no inverno de 2009 e nunca mais voltou; o aviso de que não havia mais água benta por causa da gripe A continuou lá mesmo depois que a doença deixou de representar uma ameaça.
O fato de não estarem mais rezando o Pai-Nosso de mãos dadas pode ser o único efeito benéfico da gripe A, já que o costume não está previsto nas normas litúrgicas da Igreja, por mais que o padre (ou o grupo de canto) queira um momento de “miguxismo” na missa. O rito da paz é facultativo, embora pessoalmente me incomode a maneira como é feito atualmente. Agora, a comunhão é outro assunto. Primeiro, causa um problema, digamos, jurídico. Nenhum bispo ou padre pode proibir a distribuição da comunhão na boca, porque o assunto é regulado pelo Vaticano. O parágrafo 92 da instrução Redemptionis Sacramentum é bem claro a respeito.
Mas, agora, imaginem a seguinte cena: o fiel vai à missa e, no caminho, toca uma série de objetos (no caso extremo, desloca-se de ônibus e fica segurando aquelas barras de apoio); ao chegar, cumprimenta um bocado de gente, pega aquele livreto de cantos que já passou pela mão da congregação inteira, se apoia no banco de madeira e, na hora da comunhão, recebe a hóstia na mão, que leva à boca. Não parece um convite à contaminação? E, aí, surge a hipótese: a comunhão na boca não seria mais segura? Mas, por outro lado, existe o risco de o padre tocar a língua ou os lábios de um fiel…
Conversei com o infectologista Moacir Pires Ramos, membro da Comissão Estadual de Infectologia do Paraná e chefe do setor no Hospital do Trabalhador, e com dois padres da Administração Apostólica São João Maria Vianney, ligada ao rito tridentino. Como o missal de 1962 não prevê comunhão na mão, os sacerdotes têm de administrar a Eucaristia na boca de dezenas ou centenas de fiéis em cada missa. “Existe, sim, o perigo de o padre tocar o lábio do comungante. É preciso estar muito atento”, afirma o padre Gaspar Pelegrini. No entanto, o padre Jonas Lisboa acrescenta que, apesar disso, é possivel que o sacerdote consiga dar a comunhão sem tocar a boca dos fiéis (eu acrescento que evitar o contato é ainda mais fácil quando a pessoa está de joelhos). No entanto, o dr. Moacir afirma que, mesmo sem o contato direto entre os dedos do padre e a boca do fiel, pode haver a transmissão de gotículas. “Na verdade, nenhuma das duas situações é boa; mas, se tivesse de escolher uma, diria que a comunhão na mão oferece menos risco”, afirma o médico. Para ele, receber a Eucaristia nas mãos deixa com o fiel a responsabilidade dos cuidados com a própria higiene.
Os dois sacerdotes contam que já passaram por situações de epidemia de gripe em ocasiões anteriores. “Nesses casos, um coroinha vai ao lado com um frasco de álcool, para uma possível higienização dos dedos, em caso de contato com os lábios de alguém”, afirma o padre Jonas; o padre Gaspar conta a mesmíssima história. Ainda que tivesse a possibilidade de dar a hóstia nas mãos dos fiéis, o padre Jonas afirma que manteria o costume tradicional. “Jamais adotaria a comunhão na mão, pois acredito que os riscos são maiores, uma vez que a pessoa, quando vai à missa, não costuma lavar as mãos quando chega à igreja. Já as mãos do sacerdote foram purificadas antes e durante a missa”, explica, mencionando um aspecto que o dr. Moacir considera fundamental. “Lavar as mãos, com álcool de preferência, deveria ser um procedimento padrão. Todo lugar deveria ter um dispensador de álcool 70%, deveríamos nos acostumar a isso”, avisa.
A verdade é que até o momento não houve registro de nenhuma contaminação em massa por causa de comunhão, na boca ou na mão. E você, mudaria seus hábitos na missa por causa da gripe A?
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Prêmio Top Blog 2012
Demorou um pouco mais que nos anos anteriores, mas este ano vai ter Top Blog de novo. O Tubo de Ensaio venceu em 2010 e 2011 na categoria “religião / blogs profissionais / voto popular”, e conta de novo com o apoio dos leitores para chegar ao tricampeonato. A votação da primeira fase, no entanto, começa só em 14 de julho.
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