Quem gosta de olhar para o céu deve estar aguardando o dia 16, quando começa a ficar mais evidente uma conjunção entre Júpiter e Saturno que atingirá seu auge no dia 21, solstício de verão no Hemisfério Sul. O alinhamento em si não chega a ser tão raro, ocorre mais ou menos a cada 20 anos; o que é bem menos frequente é esse grau de proximidade entre os dois planetas: a última vez que eles estiveram tão próximos no céu e puderam ser observados à noite foi há oito séculos (até houve uma conjunção semelhante há 400 anos, mas não foi observável porque os planetas estavam próximos do sol).
E aí, já viram: um evento desses, tão perto do Natal... as associações com a Estrela de Belém, descrita no Evangelho de São Mateus, são quase inevitáveis. É só colocar no Google “conjunção júpiter saturno estrela de belém” e vocês vão ter uma bela coleção de reportagens e vídeos ligando uma coisa à outra. Mas vamos devagar com o andor. Eu fico com a avaliação do diretor do Observatório Vaticano, Guy Consolmagno: a conjunção é um evento bonito que não devemos deixar de olhar, mas fazer associações com a Estrela de Belém é bastante arriscado. A verdade é que ninguém sabe o que aconteceu naquele primeiro Natal. “E, a não ser que consigamos uma máquina do tempo para voltar e entrevistar São Mateus em vídeo, ninguém vai saber com certeza”, acrescenta.
Hipóteses existem aos montes, e já tratamos delas aqui no blog. Cometa, supernova, conjunção planetária... dois anos atrás, comentei aqui um texto com outra teoria bem interessante: a de um evento incomum, embora imperceptível a olho nu (mas que os antigos estudiosos dos astros saberiam identificar) e ocorrido em abril, não em dezembro – até para que os magos do oriente tivessem tempo de fazer sua viagem. Mas eu continuo com a mesma opinião que tinha na ocasião: que tentem achar uma explicação natural para fenômenos como a Estrela de Belém não é um problema; Deus age por causas secundárias e pode ter se servido de um fenômeno natural com a intenção de chamar a atenção dos pagãos para o nascimento do Filho de Deus. O que não me agrada é a ideia (quase uma obsessão) de que precisa haver uma explicação natural, descartando de imediato a possibilidade do evento sobrenatural, do milagre. Isso é amarrar Deus. Um ateu empedernido pode pensar assim, mas não nós, cristãos.
De qualquer maneira, como também lembra Consolmagno, a “moral” da Estrela de Belém não é o fenômeno em si, mas Aquele para quem ela aponta. “Não é sobre a estrela, é sobre o bebê”, diz o diretor do Observatório Vaticano. Não vamos prestar atenção demais no acessório e perder de vista o essencial – que, aliás, é bem mais fácil de observar que um clarão no céu noturno.
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