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A evolução sob fogo cerrado nas escolas
| Foto:
Jarrett Green/istockphoto
As circunstâncias que levam ao ensino do criacionismo ou do Design Inteligente em escolas públicas variam de país para país.

Ontem, o site da Scientific American publicou um artigo de Katherine Harmon que analisa a questão do criacionismo nas escolas não apenas nos Estados Unidos, mas em outros países (aliás, para quem quiser saber a quantas andam as batalhas jurídicas nos EUA, a SciAm oferece este infográfico interativo). Segundo a autora, o criacionismo, o Design Inteligente e a contestação à teoria da evolução estão ganhando espaço também em regiões como a Europa e o Sudeste Asiático, com presença forte no ensino público especialmente em países onde a separação entre Igreja e Estado não existe ou não é tão clara. No entanto, Katherine mostra que também existem reações, como na Austrália, onde a Sociedade de Geologia local publicou em 2008 uma declaração em que se opunha ao ensino do criacionismo nas escolas.

A autora passa, então, a descrever como é o ensino da evolução (e do criacionismo) em alguns países. Ficamos sabendo, por exemplo, que na Inglaterra o ensino do criacionismo está restrito a escolas confessionais, mas mesmo no ensino público os alunos só se familiarizam com Darwin muito tarde, e defensores do DI estão fazendo pressão pela inclusão desta vertente no currículo. No restante da União Europeia a situação é desigual: o criacionismo é mais forte nos países com maiores grupos muçulmanos, especialmente graças ao trabalho de Harun Yahya.

Nos países islâmicos, não existe unanimidade sobre o ensino da evolução, até porque nem mesmo uma leitura literal do Alcorão excluiria a possibilidade da evolução (ao contrário de uma leitura literal da Bíblia, que levaria a uma “idade” bem baixa para o universo). Mas em alguns países, como a Arábia Saudita, o currículo nacional inclui a rejeição explícita a Darwin. No entanto, os obstáculos lá são diferentes dos europeus: há quem aceite a evolução de plantas e animais, mas não a do ser humano; há os que associam evolução a ateísmo; e há os que associam Darwin ao colonizador europeu, especialmente no Paquistão, o que não ajuda muito em termos de propaganda.

O artigo não trata de outros países além da UE e do mundo islâmico, mas eu me lembro que a Sociedade Criacionista Brasileira (SCB) tem uma posição diferente sobre o ensino do criacionismo no Brasil. Transcrevo aqui a resposta que recebi do biólogo Tarcísio Vieira, membro colaborador da SCB, em entrevista que fiz com ele há pouco mais de dois anos:

Conhecedores da laicidade de nosso Estado, os simpatizantes do criacionismo bíblico que estejam realmente familiarizados com a questão não argumentam em favor da inserção do criacionismo nos currículos escolares e universitários nas escolas públicas, uma vez que, como discorrido acima, o criacionismo não é uma teoria científica e está associado ao conhecimento religioso.

A SCB, por meio de seu presidente, também se manifesta totalmente contra o ensino do criacionismo nas escolas e universidades públicas. Além da questão da laicidade do Estado, temos a escassez de profissionais devidamente versados em criacionismo bíblico advindos de nossas universidades, pois todos os cursos universitários apresentam em sua grade curricular propostas para o ensino apenas das teses evolucionistas. Consequentemente, não há formação de profissionais devidamente conhecedores do modelo criacionista e muito menos aptos a defender suas teses.

Não existe interesse, ao contrário do que é divulgado pela mídia, de que as teses defendidas pelo modelo criacionista substituam a teoria da evolução ensinada nas escolas e universidades; isto é absurdo! Obviamente, não há nenhuma oposição ao ensino do modelo criacionista em escolas que se denominam confessionais, uma vez que há abertura constitucional para isto. Mas as teorias de evolução também devem ser ensinadas.

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