Li no site da Nature uma matéria muito interessante sobre o trabalho de uma clínica de genética que vem ajudando comunidades amish e menonitas nos Estados Unidos. O isolamento em que essas pequenas comunidades vivem faz com que, mais cedo ou mais tarde, o número de crianças com problemas de saúde de origem genética aumente, já que os membros destes grupos se casam apenas entre si, potencializando a ação de mutações e de genes recessivos que, em uma população maior, continuariam sem se manifestar.
Os especialistas contam que a dificuldade natural em encontrar as alterações nos genes que causam determinadas doenças é amenizada justamente pelas características peculiares das comunidades, incluindo as altas taxas de anomalias genéticas; como é mais fácil achar pacientes com o mesmo problema, a chance de encontrar as causas aumenta. A equipe da clínica estima poder identificar de cinco a 15 novas doenças por ano, com suas respectivas causas. O primeiro contato do fundador da clínica, Holmes Morton, com um paciente amish ocorreu em 1989; a partir dessa experiência, ele decidiu começar um trabalho dedicado a esses grupos, trazendo os cuidados médicos para mais perto das vilas amish e menonitas.
Os amish e os menonitas são famosos por rejeitar boa parte dos confortos modernos (certos grupos proibem até mesmo o uso de automóveis e energia elétrica), mas acolheram com entusiasmo o uso da tecnologia genética para ajudar suas crianças, e inclusive ajudaram Morton a construir sua clínica, continuando até hoje a colaborar com sua manutenção. Alguns podem achar pragmático demais (“ah, eles rejeitam luz elétrica, mas quando a vida deles é ameaçada não pensam duas vezes em usar a tecnologia”); eu não consegui encontrar as justificativas religiosas para a rejeição desta ou daquela tecnologia; sei que as restrições podem variar de comunidade para comunidade. Mas, como cristãos, não duvido que os amish e os menonitas que recorrem aos geneticistas estão meramente praticando o que a Bíblia diz no capítulo 38 do Eclesiástico: Honra o médico por causa da necessidade, pois foi o Altíssimo quem o criou. (Toda a medicina provém de Deus), e ele recebe presentes do rei: a ciência do médico o eleva em honra; ele é admirado na presença dos grandes. O Senhor fez a terra produzir os medicamentos: o homem sensato não os despreza. Uma espécie de madeira não adoçou o amargor da água? Essa virtude chegou ao conhecimento dos homens. O Altíssimo deu-lhes a ciência da medicina para ser honrado em suas maravilhas; e dela se serve para acalmar as dores e curá-las; o farmacêutico faz misturas agradáveis, compõe unguentos úteis à saúde, e seu trabalho não terminará, até que a paz divina se estenda sobre a face da terra.
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