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O jornal The Jewish Week, dirigido à comunidade judaica norte-americana, publicou anteontem uma entrevista curta com o professor de Física Natan Aviezer, autor de dois livros sobre ciência e judaísmo. Ele esteve em Nova York para uma palestra, ocasião em que respondeu a algumas perguntas sobre a conciliação entre as descobertas científicas e a fé judaica. É sempre bom ver pessoas de diversas confissões religiosas rejeitando a noção de conflito entre religião e ciência.

Por algum motivo de formatação do site, as perguntas estão grudadas nas respostas imediatamente anteriores (pelo menos aqui no meu computador), mas não é difícil acompanhar o raciocínio do físico. Ele reforça o que eu já comentei aqui em outras: que a religião precisa ser grata à ciência por remover dela os elementos de superstição (embora não use exatamente essas palavras): “A ciência se tornou uma ferramenta importante para entendermos várias passagens [da Torá] que antigamente eram enigmáticas e impossíveis de compreender”, afirma.

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Mas um outro trecho da entrevista me deixou intrigado. Falando sobre a literalidade do Gênesis, Aviezer diz: “Por muito tempo se pensou que não se pode criar alguma coisa do nada. Agora, a ciência percebeu que isso não é verdade”, ele diz, para citar logo depois o Big Bang. Que Deus tenha tirado o universo do nada é algo que praticamente toda pessoa religiosa aceita; mas isso pressupõe que houvesse algo (no caso, Alguém) para esse ato criativo. Agora, como a ciência possa ter comprovado que se cria algo a partir do nada, aí eu não sei. Aliás, mesmo a teoria do Big Bang não diz que o universo surgiu do nada, e sim de um ponto ínfimo que concentrava toda a matéria e a energia do universo.

Também foi interessante descobrir que um rabino foi chamado de herege por colegas ortodoxos ao dizer que o mundo tinha mais de 5.770 anos. Mas o físico lembra que Maimônides, já no século 12, lançou a interpretação não literal dos “seis dias” da criação, mais ou menos como santo Agostinho fez, do lado cristão, em seu tratado A interpretação literal do Gênesis. Gostei de saber; agora fiquei curioso para ler o Guia dos Perplexos.

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