Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que magos vieram do Oriente a Jerusalém. Perguntaram eles: “Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo.” (…) E eis que a estrela, que tinham visto no oriente, os foi precedendo até chegar ao lugar onde estava o menino e ali parou. (Mateus 2, 1-2.9)
O Evangelho de são Mateus é o único que conta a história da “estrela de Belém”. Já cheguei a ouvir um padre dizer em homilia que os tais magos do oriente nunca existiram, mas nunca lhe dei crédito (até pelo histórico de bobagens que ele acumulava). Sempre tomei esse trecho por real, e acho interesantes essas hipóteses de associar a estrela de Belém a um evento astronômico real ocorrido cerca de 2 mil anos atrás. Não vejo problema nenhum no fato de Deus ter disposto as coisas de forma que o nascimento do Seu Filho coincidisse com um evento no céu que servisse de sinal aos magos do oriente (uma nota de rodapé na minha Bíblia diz que os magos teriam tido uma revelação interior para que pudessem associar a “estrela” ao Menino). Também não vejo problema na hipótese de um evento extraordinário, um milagre. E que dia seria melhor para falar do assunto que hoje, 6 de janeiro, dia de Reis (ou, mais formalmente, dia da Epifania do Senhor)?
O grupo criacionista (de Terra antiga, deve-se ressaltar) Reasons to Believe tem em seu site um texto de seu fundador, o astrônomo Hugh Ross, analisando as várias hipóteses sobre a “estrela”. O texto é de 2002, e foi atualizado no fim de 2010, suponho que incorporando novas possibilidades levantadas nesse intervalo de oito anos. A primeira coisa que Ross diz é que qualquer hipótese é meramente especulativa. Até porque, por mais que se encontre um evento astronômico contemporâneo ao nascimento de Cristo e observável no Oriente Médio, nada indica que aquele evento teria sido o que conduziu os magos a Belém.
Ross parece descartar as possibilidades “extraordinárias” ou sobrenaturais, e lista cinco hipóteses de ocorrências astronômicas: uma conjunção de planetas, uma conjunção entre planetas e estrelas particularmente brilhantes, uma “ocultação” (quando a Lua passa na frente de um planeta), um cometa ou uma supernova. Esta última possibilidade é descartada de imediato por Ross porque não há notícias de supernovas na época do nascimento de Jesus (e naquele tempo indianos, egípcios, chineses e gregos já tinham registros precisos de eventos astronômicos importantes); supernovas, argumenta, são tão evidentes que podem ser observadas até durante o dia, mas a história da estrela mostra que a maioria das pessoas ignorava o sinal no céu.
Ross usa os mesmos argumentos (falta de registro de outras civilizações e a “discrição” do evento, notado por poucos) e acrescenta a enorme frequência de outras ocorrências (como a “ocultação” lunar) para descartar as quatro hipóteses restantes, mas percebi que ele não comentou a possibilidade de conjunção entre Júpiter e a estrela Regulus, que mencionei no fim de 2010. É claro que, se a nota de rodapé da minha Bíblia estiver certa, haveria a possibilidade de um evento “comum” ser a estrela de Belém, desde que os magos soubessem, por revelação interior, que tinham um motivo especial para prestar atenção naquela ocorrência que, de outra forma, passaria batida justamente por ser frequente. Mas Ross parece não contar com essa possibilidade. Para ele, se a estrela de Belém for um evento astronômico real, esse evento deve ser suficientemente incomum e não muito escancarado, algo que só gente treinada conseguiria perceber.
Segundo o astrônomo, o evento que se encaixa nesses critérios é uma nova, uma explosão estelar mais “discreta” que a de uma supernova, e cujo brilho vai diminuindo com o tempo. A julgar pelo texto da Wikipedia, novas são bem frequentes (quase uma por semana só na Via Láctea), mas o pulo do gato é que só uma parte delas é visível a olho nu. Segundo Ross, chineses e coreanos registraram duas novas em datas suficientemte próximas a 4 a.C., considerado o ano mais provável do nascimento de Cristo.
No entanto, segundo Ross, fica um mistério: a Bíblia diz que a estrela guiou os magos até Belém e “parou” sobre o local onde estava a Sagrada Família. Nenhum fenômeno astronômico “se movimenta” no céu como se estivesse marcando a estrada entre Jerusalém e Belém. O astrônomo sugere que a nova estivesse bem visível à medida que os magos se aproximaram de Belém, perdendo brilho à medida que eles chegavam ao local exato. Mas, como ele mesmo ressalta, isso é apenas uma especulação. Seja lá o que tenha acontecido, Ross afirma que a mensagem principal está no esforço que aqueles homens puseram para, reconhecendo o sinal no céu, procurar o Messias.
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