Semana passada, a BBC Radio 4 transmitiu um programa de meia hora sobre Georges Lemaître, o padre belga que elaborou a teoria do Big Bang (e cuja morte completa 46 anos no dia 20). O título do programa, The Father of the Big Bang, traz um daqueles trocadilhos que o jornalismo de língua inglesa adora, já que “father” pode ser tanto “pai” quanto “padre”.
William Crawley e seus entrevistados (que incluem físicos, teólogos, biógrafos e especialistas em ciência e religião) recuperam a história de Lemaître desde seus dias em Cambridge, como aluno de Arthur Eddington. Os convidados do programa explicam o que já se sabia à época de Lemaître (e qual a importância de Eddington na construção desse conhecimento), o que o belga trouxe de novidade e sua importância para a Cosmologia moderna.
John Barrow, biógrafo, ressaltou que Lemaître sabia perfeitamente conciliar sua fé com as teorias científicas que desenvolvia. Já decidido a se tornar padre, Lemaître serviu na Primeira Guerra Mundial e, quando aparecia um tempo nas trincheiras, lia o Gênesis e as obras de Poincaré; foi quando surgiu seu interesse pela Cosmologia. Logo depois de sua ordenação sacerdotal, ele foi para Cambridge.
Lemaître completou seus estudos em Harvard e, ao voltar para a Bélgica, ele era um dos poucos cientistas no mundo que compreendia profundamente as teorias de Einstein. Em Louvain, o sacerdote começou a ensinar, mas não abandonou seu objetivo de desvendar a história do surgimento do universo. O programa traz, inclusive, um trechinho de uma das últimas aulas de Lemaître (em francês) na universidade belga, e pessoas que conviveram com o padre revelam traços de sua personalidade, além de seu trabalho. Barrow ainda ressalta que Lemaître já havia visto as possibilidades do uso da computação na Cosmologia.
O programa conta como Lemaître aplicou os conceitos de Einstein para chegar à ideia do “átomo primordial”, o primeiro nome daquilo que viria a ser o “Big Bang” (que, como sabemos, era o termo que Fred Hoyle criou para satirizar o trabalho de Lemaître), e como essa ideia finalmente chegou a sobrepujar as demais teorias sobre o surgimento e a expansão do universo, superando inclusive a oposição do próprio Einstein (mas não a de Hoyle, o que não impediu o inglês e o belga de serem bons amigos).
A parte final do programa volta a tratar de como Lemaître conciliou ciência e fé, sem no entanto cometer o erro de fazer misturas indevidas. Rodney Holder, do Instituto Faraday (que deu a este blogueiro uma bolsa, em 2011, para fazer um curso de uma semana sobre ciência e religião em Cambridge), conta o episódio em que Lemaître advertiu um Papa (Pio XII, no caso) que entendeu o Big Bang como uma evidência empírica do “faça-se a luz”. Pouco antes de morrer, Lemaître soube de descobertas que confirmavam seu modelo. Qualquer semelhança com Copérnico, dizem os entrevistados no programa, não seria mera coincidência.
Ciência e fé em Curitiba
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