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Ainda não acabou, como vocês podem perceber. Mas hoje eu trago um exemplo de como não fazer as coisas. A revista britânica Christianity tem uma matéria sobre o bóson de Higgs em sua edição de setembro.

cty_sept_12_god_particle.pdf
Baixe aqui a reportagem da revista Christianity sobre o bóson de Higgs.
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Primeiro, a matéria escorrega quando assume toda uma linguagem que endossa a visão de que realmente existe uma batalha em curso entre a ciência e a religião. E aí vai dizer que existem boas razões para os cristãos acrescentarem o bóson de Higgs ao seu arsenal. Como assim?

Uma das principais fontes da reportagem, o físico Peter Bussey, diz justamente que “não acho que ele [o bóson] acrescente muita coisa no debate entre ciência e fé”. Mas acrescenta que, por outro lado, a comprovação da existência da partícula seria uma confirmação da noção de uma ordem no universo que poderia ser atribuída a um criador. Mas, em outras palavras, é só isso. A reportagem ainda lembra que a questão sobre como o universo pode ter surgido a partir do nada permanece, mas, até aí, ela permaneceria com ou sem bóson de Higgs. O fim da reportagem traz Alister McGrath com aquela observação que já conhecemos, sobre os paralelos entre a busca pelo bóson de Higgs e a busca por Deus. Eu gosto dessa reflexão, acho que faz todo o sentido, mas não a vejo como ela seria uma “arma” para os crentes como descrito no primeiro parágrafo da reportagem.

E ainda temos os dois quadros complementares, aqueles com fundo vermelho. O primeiro explica a teoria sobre o bóson de Higgs, e está muito bom. Mas o segundo, dedicado a mostrar “ideias que desmentiriam a existência de Deus”, é fraquinho. Deixando de lado todas as imprecisões possíveis e imagináveis sobre o caso Galileu cometidas no quadro, eu nunca vi alguém defender que o heliocentrismo refutasse a existência de Deus! No máximo, tem os malucos discípulos do Robert Sungenis, para quem o heliocentrismo é uma conspiração para diminuir a autoridade da Igreja, mas isso é outra coisa, bem diferente de “provar que Deus não existe”. O quadro ainda traz uma omissão gravíssima ao tratar do Big Bang, o fato de que a teoria foi proposta por um padre. Por incrível que pareça, foi justamente no texto sobre a evolução que não vi nada errado.

Eu acho ótimo que publicações dirigidas ao público religioso se disponham a explicar com detalhe o que é o bóson de Higgs e as implicações que ele tem (ou deixa de ter) no debate sobre ciência e religião. A edição de setembro d’O Mensageiro de Santo Antônio terá um texto meu justamente sobre isso. Mas, quando as reportagens reforçam a tese de um conflito entre ciência e fé e ainda se dispõem a fornecer “armamento”, a coisa complica muito.

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