Eu acho curioso que o Huffington Post descreva Noah Efron apenas como “vereador na cidade de Tel Aviv”. Ele também é professor na Universidae Bar Ilan e já assessorou o governo e o parlamento israelenses em assuntos de biotecnologia, entre outras coisas. Mas o que importa para nós hoje é que no fim da semana passada ele escreveu um texto bem interessante sobre como a relação entre ciência e religião não se limita ao plano das ideias.
Ele começa dizendo que costumamos simplificar nossa noção tanto de ciência quanto de religião (às vezes de propósito, para deixar o “conflito” surgir mais facilmente), mas na verdade essas duas realidades são bem mais complexas. É como já dissemos aqui em outras oportunidades: ciência não é apenas teoria, mas também se compõe de práticas e tecnologias; a religião não é apenas teologia ou afirmações sobre a existência de Deus, mas também sobre a moralidade que guia as pessoas no seu dia a dia, por exemplo. É por isso que, uma vez, critiquei a terminologia de uma pesquisa de opinião que perguntava às pessoas se elas viam “conflito entre ciência e fé” na sua vida e na sociedade em geral. Sem diferenciar entre as teorias científicas e as práticas cientíticas e tecnológicas, ou entre definições teológicas e orientações morais, era difícil saber no que exatamente as pessoas estavam pensando ao responder: em Darwin ou nas células-tronco embrionárias?
E é daqui que Efron parte para sua argumentação: quando falamos de “ciência e religião”, logo nos vêm a cabeça imagens como a da discussão sobre criacionismo e evolucionismo, ou Design Inteligente, ou o Big Bang, e por aí vai. É uma discussão de ideias. O que Efron afirma é que, embora esses dilemas sejam reais, eles não são os principais. A verdadeira relação entre ciência e fé se dá no dia a dia, em decisões às vezes difíceis e que nos afetam diretamente: por exemplo, até onde ir para buscar uma cura? Ou um filho? A ciência nos dá as informações e as ferramentas para fazer muitas coisas, mas algo se torna correto ou justo pelo simples fato de ser tecnicamente possível? Aí entra a religião para orientar as pessoas em suas escolhas.
É bem significativo que Efron mencione um recente texto de Bento XVI sobre o mundo virtual para nos fazer um alerta: talvez estejamos prestando atenção demais aos embates virtuais e nos esquecendo dessas ocasiões do dia a dia em que ciência e fé se encontram. O pesquisador promete, nos próximos artigos, dar exemplos bem concretos de como essa relação se processa no cotidiano. Vamos acompanhar.
E, para acrescentar, deixo aqui um vídeo mais ou menos relacionado ao tema de Efron: é Denis Alexander, do Instituto Faraday da Universidade de Cambridge, explicando a relação entre ciência e valores morais universais. Infelizmente não consegui incorporar o vídeo no blog, mas basta clicar no link acima.
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