Neil DeGrasse Tyson e Bill Moyers.| Foto:

Soube, nesta semana, de dois vídeos interessantes que resolvi compartilhar com vocês.

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No primeiro vídeo, temos o astrofísico Neil DeGrasse Tyson na segunda parte de sua entrevista ao jornalista Bill Moyers. Eles tratam de diversos temas, inclusive a maneira como Tyson vê a relação entre ciência e fé.

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Vocês podem conferir a transcrição aqui. A primeira menção à religião aparece lá pelo minuto 13:50. Tyson brinca com o fato de as pessoas fazerem desejos a estrelas que na verdade são planetas, e Moyers pergunta se ele não fica triste ao derrubar tantos mitos. A resposta de Tyson é muito boa, começando com “há mitos que precisam ser derrubados”. É a repetição da ideia, já exposta nesse blog desde o começo, de que a ciência purifica a religião da mitologia. Logo depois, a respeito de outro assunto, Tyson reconhece a grande contribuição do padre belga Georges Lemaître e diz “Ele era um padre, e físico. Físico-padre, ok? Que coisa incrível para ter escrito num cartão de visita”. Parece que as coisas estão indo bem, até o minuto 16:58, quando Tyson afirma não acreditar que ciência e fé sejam conciliáveis. Mas a explicação que ele dá depois é um tanto frágil. Vejamos:

Primeiro, Tyson diz que “todos os esforços investidos por gente brilhante no passado em relação a isso falharam” (o que não é verdade, bastando ver a extensa lista de grandes cientistas que conciliaram perfeitamente seu trabalho científico com alguma fé religiosa), e depois passa a mencionar os casos de interpretação literal da Bíblia e mostrar que todos os que buscaram na Escritura uma afirmação de cunho científico sobre o que é o universo tiveram a resposta errada. Ora, isso é evidente inclusive para a maioria dos religiosos. “O que aconteceu foi que, quando a ciência descobre coisas, e você quer permanecer religioso, ou quer continuar a acreditar que a Bíblia não erra, o que você faria é dizer ‘Bem, vamos voltar à Bíblia e reinterpretá-la’, e você diria coisas como ‘Ah, eles não quiseram dizer essas coisas literalmente, mas de forma figurada'”. Exatamente. É o que Santo Agostinho disse, é o que São Roberto Belarmino disse. Não se conclui daí que não há conciliação entre ciência e fé. Até agora, o que se conclui é que não há conciliação entre ciência e fundamentalismo, o que Tyson parece admitir logo na sequência.

E, alguns minutos depois, quando Moyers diz que algumas pessoas poderão associar a energia escura ao próprio Deus, pois “isso é o que mantém o universo” (de antemão digo que pensar dessa forma é bem tosco), Tyson embarca no discurso contra o “Deus das lacunas” (a partir do minuto 22; ele inclusive usa essa expressão durante a entrevista). Já conhecemos essa história: as pessoas invocam Deus para explicar o que elas não conseguem explicar de outra forma (ou seja, pela ciência). Sabemos que isso existe, que há quem pense assim. Mas associar esse tipo de pensamento à religião em geral, ou insinuar que é assim que a religião funciona, é falsificar a religião.

“Se é assim que você vai invocar Deus, se Deus é o mistério do universo, esses mistérios, nós os estamos desvendando um após o outro”, diz Tyson. De fato, e é por isso que sempre defendemos aqui que o “Deus das lacunas” é uma caricatura da divindade e que não se sustenta diante das descobertas da ciência. É perigoso ter esse tipo de fé, mas eu sou mais compreensivo com quem pensa assim que com aqueles que estudaram o suficiente para saber que o “Deus das lacunas” não é o Deus em que muitas religiões acreditam, mas insistem em usar esse espantalho para desqualificar a religião.

No segundo vídeo, Bill Nye, o “Science Guy”, de quem falamos semana passada, responde se acredita ou não em Deus (por restrições do WordPress, não consegui incorporar o vídeo no blog, então basta clicar no link para ver direto no site do Huffington Post). Ele se define como agnóstico (a julgar pelos comentários, aparentemente em ocasiões anteriores ele se definiu como ateu), diz que não há como saber se Deus existe. Mas Nye não demonstra um discurso hostil à religião; seu problema verdadeiro é com as tentativas de implantar o criacionismo em escolas como se fosse ciência, e nesse aspecto estou com ele.

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Particularmente, acho o agnosticismo uma posição intelectualmente honesta, embora eu nunca tenha visto um agnóstico que, na dúvida, se comporte como se Deus existisse; todos os que eu conheço se comportam como se Deus não existisse. De qualquer modo, a dúvida, nesse caso, é mais honesta que a pretensão de afirmar categoricamente que Deus não existe, como se houvesse provas irrefutáveis disso, quando elas não existem. Portanto, por mais que os ateus discordem, o ateísmo exige, sim, uma dose de fé semelhante à que qualquer religioso tem, pois também o ateu faz afirmações que não tem como comprovar empiricamente.

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