O pedido não é meu, é do diretor do Observatório Vaticano, o irmão jesuíta Guy Consolmagno. A instituição que ele dirige está, neste exato momento, realizando uma conferência sobre buracos negros, ondas gravitacionais e singularidades espaço-tempo. A expressão sobre “sair do armário” foi dita em uma entrevista, de acordo com John Allen Jr., do portal Crux, e o jornal britânico Catholic Herald. “Mais cientistas que frequentam a igreja precisam que os paroquianos saibam do seu trabalho. Eles deviam montar telescópios no estacionamento da igreja, ou fazer trilha com grupos de jovens”, aconselhou o jesuíta. Bom conselho, e certamente deve ser mais fácil que o outro modo de “sair do armário”, que é assumir sua religiosidade no meio acadêmico. Se ainda hoje a universidade é hostil com quem não é de esquerda, imagine com quem leva a sério sua fé católica…
De qualquer maneira, já tem muito cientista católico proud of it, como dizem os americanos. E vários deles montaram uma entidade, a Society of Catholic Scientists, que realizou sua primeira conferência no fim de abril, em Chicago (veja reportagens no Crux, na Forbes e no Our Sunday Visitor), com o tema “Origens”. Ali, sim, a questão de assumir a identidade católica no ambiente universitário é um fator importante. Os entrevistados ressaltaram que a nova sociedade é também um meio de apoio mútuo, e esse companheirismo está inclusive cristalizado nas missões da entidade, além daquelas mais “tradicionais”, como incentivar o diálogo entre ciência e fé e ajudar as comunidades católicas, clero, leigos e educadores a se tornarem mais “cientificamente letrados”.
Mas dizer que existe uma “ciência católica” seria um erro. Há a ciência com seus métodos, e eles independem da religião (ou ausência dela) do cientista. Seria exagerado mesmo dizer que há um “jeito católico de fazer ciência”, com a única exceção de que os católicos que atuam na área biomédica provavelmente evitarão técnicas de pesquisa que exijam a destruição de embriões humanos, por exemplo, além de outras práticas que atentam contra a vida humana. Então, o que há de único ou especial num cientista católico? A química Stacy Trasancos (que não participou da conferência em Chicago, por ter outros compromissos) me disse que se delicia com as “piadas internas”: “outro dia estava com Consolmagno e uma amiga dele, que também é da área da química, como eu. Estávamos conversando sobre liturgia e sobre como o orvalho não ‘cai’, ele condensa. Mas dizer desse jeito não soa tão poético”, em referência a alguns textos bíblicos usados no período do advento. “Agora, falando sério, a fé nos dá uma perspectiva mais ampla. Sem ela, você pensa na ciência como o estudo da natureza e dos fenômenos físicos, o que já é suficiente para inspirar admiração. Mas um cientista sem fé não tem respostas sobre a origem e o propósito de tudo. Pela luz da fé, a ciência se torna o estudo da criação, da obra de Deus, e nos permite experimentar uma admiração que transcende o físico. Você vê como tudo se encaixa”, afirma a cientista e professora.
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