O blog da Fundação do Observatório Vaticano trouxe ontem um post do diretor do observatório, o jesuíta Guy Consolmagno, em resposta a um leitor. Em 2017, Consolmagno havia aparecido em uma reportagem do site Crux, em que pedia aos cientistas cristãos que “saíssem do armário” e se envolvessem em suas comunidades. O leitor encontrou esse texto e perguntava a Consolmagno: como fazer isso?
O diretor do Observatório Vaticano respondeu com três sugestões: compartilhar o conteúdo on-line produzido pelo observatório, juntar-se a grupos já existentes em sua paróquia (Consolmagno escreve para católicos, mas as observações são totalmente válidas para qualquer comunidade religiosa, mesmo não cristã) e, por último, organizar eventos como observações astronômicas – Consolmagno fala em grupos de jovens, mas por que se restringir a eles?
É a mais pura verdade: quando uma comunidade religiosa tem cientistas em seu meio, a melhor coisa que eles podem fazer é, primeiro, mostrar que estão ali, que é possível, sim, ser um bom cientista e uma pessoa de fé sincera. Depois, se o tempo (ninguém está pedindo para deixar trabalho e família de lado, certo?) e o padre, pastor, rabino etc. permitirem, vale a pena organizar eventos para a comunidade. As crianças vão ficar curiosíssimas ao olhar por um telescópio ou microscópio, ou presenciar alguma experiência divertida – sim, estou falando de lançar foguetes e projéteis, explodir coisas, e por aí vai. Os jovens e adultos também têm essa curiosidade – uma vez, fui a uma observação astronômica na Região Metropolitana de Curitiba e um dos organizadores me disse que adora ver a reação das pessoas de todas as idades quando veem Saturno pela primeira vez em detalhe – e podem se beneficiar com uma palestra, por exemplo, sobre algum tema de ciência e fé, ou mesmo sobre algum tema científico mais “quente”, para contribuir com a formação intelectual das pessoas. Esses cientistas poderiam se envolver com a catequese/escola dominical para falar um pouco às crianças sobre como o cientista procura descobrir as maneiras como Deus trabalha por meio da natureza.
Uma pesquisa de 2011 do Barna Group com jovens que deixaram suas igrejas a partir dos 15 anos apontou seis grandes razões para isso, e uma delas era a visão de que o cristianismo se opunha à ciência. Nós nunca sabemos se existe alguém em nossas comunidades que está sendo alvo do vírus da pseudociência; que está caindo no papo ateísta de que a ciência torna a religião obsoleta; que está reagindo à ofensiva neoateísta fazendo o pêndulo pender pra outro lado, negando as potentes evidências em favor, por exemplo, da evolução; que está se perguntando se o ambiente universitário não vai abalar a fé, própria ou dos filhos. Os cientistas que estão por aí, nas paróquias, nas igrejas cristãs, nas comunidades religiosas precisam estar ao lado dessas pessoas para que não as percamos para nenhum dos dois extremos, seja o fanatismo religioso anticientífico, seja o cientificismo antirreligioso.
Pequeno merchan
Além de editor e blogueiro na Gazeta do Povo, também sou colunista de ciência e fé na revista católica O Mensageiro de Santo Antônio desde 2010. A editora vinculada à revista lançou o livro Bíblia e Natureza: os dois livros de Deus – reflexões sobre ciência e fé, uma compilação que reúne boa parte das colunas escritas por mim e por meus colegas Alexandre Zabot, Daniel Marques e Luan Galani ao longo de seis anos, tratando de temas como evolução, história, bioética, física e astronomia. O livro está disponível na loja on-line do Mensageiro.
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