Anteontem começou, em Nova York, o World Science Festival, um grande evento de ciência que, na noite de abertura, homenageou Stephen Hawking. Amanhã, ocorre um evento sobre fé e ciência, e a discussão atraiu tanta gente que os ingressos acabaram e a organização foi levada a mudar o local do evento, para um em que coubessem mais pessoas.
Obviamente esse tipo de coisa deixaria alguém irritado. Ainda mais quando se sabe que tem dinheiro da Fundação John Templeton envolvido. Como sabemos, a fundação é acusada pelo ateísmo militante de “subornar” pessoas para dizer que ciência e religião são compatíveis. As reclamações vieram, surpresa!, dos ateus militantes. O problema, segundo eles, não chega a ser que o elenco do evento esteja desbalanceado entre crentes e não-crentes (eu não sei no que Elaine Pagels acredita, mas seus livros são bem críticos em relação ao cristianismo tradicional). Na verdade, eles reclamam que o painel foi montado apenas com o que chamam de “acomodacionistas”, o “insulto” criado pelo ateísmo militante para designar quem acredita na compatibilidade entre ciência e fé. Aliás, amigos leitores do Tubo sugeriram substituir esse termo por “compatibilistas”, que não carrega a conotação negativa do termo “acomodacionista”, como já conversamos aqui.
Sean Carroll é um dos que não gostaram da escalação do evento. Em seu blog, ele afirma que está faltando justamente o lado “correto” da história (viram o que acontece com quem abre demais o bocão? Acaba sem convite para a festa…), o de que não é possível conciliar ciência e fé. Carroll aparentemente vê um problema no fato de “compatibilistas” terem um palanque para difundir seus pontos de vista. Ou, pelo menos, terem um palanque maior que o dos “conflitistas”. Querem saber? Eu nem acho que os “compatibilistas” tenham mais espaço na mídia que os “conflitistas”! Quanta gente sabe quem é e o que pensa Richard Dawkins? E quantos sabem quem é e o que pensa Francisco Ayala (só para ficar no último vencedor do Prêmio Templeton)? Por aí já podemos ter uma ideia de qual lado costuma ganhar o maior megafone, para citar a analogia de Carroll.
Como é comum na blogosfera, a reclamação de Carroll não ficou sem resposta. Chad Orzel deu a seu texto um título interessante: Extremistas não são interessantes. Ele recorre a um certo exagero para mostrar, de forma bem humorada, como seria um debate feito pelo elenco que Carroll gostaria de ver no World Science Festival. Exagero à parte, é bem possível que fosse aquilo mesmo. Para Orzel, tudo depende do objetivo do evento. Pelo jeito, o tema não será “ciência e fé são compatíveis?”. Suponho que, se fosse assim, obviamente teriam chamado algum “conflitista”. Parece que a discussão será mais sobre como um cientista religioso consegue, na prática, essa compatibilidade. De fato, num caso desses um “conflitista” não teria nada o que fazer lá. Ou ele diria “bom, eu não consigo essa compatibilidade” e ficaria quieto o resto do tempo, ou ele passaria todo o tempo desviando do assunto. Aliás, Orzel percebe algo interessante: se é verdade que entre os convocados não existe nenhum ateísta militante que rejeita a religião, também não há nenhum fundamentalista religioso que rejeita a ciência.
Só lamento que o debate de amanhã não esteja entre os eventos que serão transmitidos ao vivo pela internet. Quem sabe eles resolvem botar no ar depois…
O Tubo de Ensaio se inscreveu tardiamente no prêmio TopBlog 2010. Como não havia categoria de ciência, estou concorrendo na categoria Blogs profissionais/Religião. Para votar, é só clicar no selo ao lado. Ao contrário do que eu disse anteontem, não precisa de cadastro: na hora de votar você coloca seu nome e e-mail, e depois recebe uma mensagem com um link para validar seu voto.
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