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Noção do "Deus das lacunas" é, infelizmente, a prevalente entre os seminaristas.
Noção do "Deus das lacunas" é, infelizmente, a prevalente entre os seminaristas.| Foto:

No post anterior (já faz um tempinho, desculpem), vimos o que os seminaristas que responderam ao meu questionário em 2011 andavam lendo sobre ciência, e mais especificamente sobre ciência e religião. Hoje vamos verificar que, por mais que suas leituras defendam, na maioria das vezes, o paradigma do conflito entre ciência e fé, isso parece não abalar as suas convicções sobre o tema.

Já no texto do dia 6 eu havia adiantado o dado que vem a seguir. Eu pedi aos seminaristas que escolhessem, entre cinco frases, qual delas representava melhor a posição que cada um deles tinha sobre a relação entre ciência e fé. Vejam aí o que deu:

9 em cada 10 seminaristas acreditam que ciência e religião são complementares.

9 em cada 10 seminaristas acreditam que ciência e religião são complementares.

No dia 6, eu havia escrito: “Será possível que os seminaristas confiem nessas fontes [revistas como Superinteressante, por exemplo] para obter informação especificamente sobre ciência, mas ignorem sua abordagem e o viés ‘conflitista’ quando elas falam de ciência e religião? É uma possibilidade, mas as respostas ao questionário não são suficientes para afirmar isso com certeza absoluta.”

Na verdade, o que me impressiona mais não são os 90%, mas os 2% que escolheram o paradigma de conflito, especialmente aquele segundo o qual a ciência torna os dogmas obsoletos. Eu me pergunto o que esse povo está fazendo no seminário, então… Mesmo assim, o cenário geral é muito animador.

O gráfico seguinte é ainda mais interessante, com motivos de preocupação e de satisfação. Eu apresentei outras cinco frases aos seminaristas, e pedi que eles respondessem com seu grau de concordância, ou discordância, em relação a essas frases. Confiram só:

Noção do

Noção do “Deus das lacunas” é, infelizmente, a prevalente entre os seminaristas.

As quatro primeiras barras são aquelas que dão motivo para alegria. Os seminaristas aceitam maciçamente a convivência pacífica entre ciência e fé, mais de dois terços deles discordam da possibilidade de provar cientificamente a existência ou a inexistência de Deus, mais de 80% discordam da noção de que os dogmas católicos atrapalham o desenvolvimento científico, e a mesma parcela não acha que estudar ciência faz as pessoas perderem a fé. Imaginem um padre desencorajando um paroquiano que pretende fazer faculdade de Física, ou Biologia… estaríamos perdendo um potencial cientista que saberia conciliar ciência e fé em sua vida profissional.

O problema é a última frase. Ela descreve a ideia do “Deus das lacunas”, aquele que é usado como muleta para explicar o que a ciência ainda não conseguiu entender. São quase 60% de seminaristas que concordam, totalmente ou em parte, com essa afirmação. É uma pena, pois são pessoas que correm o risco de ter sua fé abalada à medida que a ciência vai desvendando os segredos que envolvem, por exemplo, a origem da vida.

Não trouxe o gráfico aqui, mas eu separei as respostas a essa frase também pelo ano de formação (desde o Propedêutico, o ano inicial da formação do futuro padre, até o último ano de Teologia). Minha intenção era descobrir se, de algum modo, a formação dada no seminário ajudava a dissipar essa noção. Infelizmente não foi possível verificar influência nenhuma. A concordância, total ou parcial, com a frase é de 68,4% no Propedêutico, e de 66% no 4.º ano da Teologia. Só entre os alunos de 1.º e 2.º ano de Teologia a concordância total ou parcial fica abaixo de 50% (em ambos os casos, gira em torno de um terço dos entrevistados). Esse é um desafio interessante para os formadores nos seminários: o de combater o “Deus das lacunas”. Quem sabe a leitura dessa entrevista que o padre George Coyne, do Observatório Vaticano, deu ao blog anos atrás possa ajudar.

Não custa nada lembrar: a íntegra do artigo que publiquei com os resultados da sondagem com os seminaristas saiu na segunda edição da revista on-line de ciência e religião Quaerentibus.

Atualização dos trabalhos no blog

Alguns bugs foram resolvidos e nos últimos dias acertei o posicionamento das fotos de todos os posts desde novembro de 2012. Neles eu não tenho mais o que mexer, e já me resignei com o fato de que algumas coisas provavelmente nunca aparecerão da mesma forma como eram exibidas antes da migração (um exemplo é o da legenda das fotos que não ocupam toda a largura da área de leitura do blog).

Nos posts anteriores a novembro de 2012, vocês ainda verão imagens fora do lugar e links que não abrem em novas janelas (fazendo o leitor sair do Tubo). Esses posts também ainda não foram classificados em categorias.

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