O blog On Faith, do Washington Post, publicou um texto de Jeremy Brown, professor de Medicina e autor de um livro sobre a recepção do Judaísmo às teorias heliocêntricas de Nicolau Copérnico. O artigo de Brown lembra que, embora a reação católica seja amplamente conhecida (e distorcida, acrescento eu; basta comparar o que realmente aconteceu a Galileu com o que dizem por aí sobre o que aconteceu a Galileu), a resposta de outras religiões é pouco abordada; Marcelo Gleiser deu dicas sobre como os luteranos viam a teoria heliocêntrica, mas até agora a visão judaica sobre o tema era tema praticamente ausente da discussão.
E, a julgar pelo texto de Brown, os judeus tiveram, de início, a mesma reação cautelosa dos cristãos e, inclusive, dos demais cientistas (lembremo-nos que, no tempo de Copérnico, nem mesmo os mais respeitados astrônomos da época, como Tycho Brahe, abraçaram o heliocentrismo). O rabino e astrônomo David Gans, por exemplo, elogiava Copérnico, mas discordava de seu modelo com base em dúvidas de caráter científico. E Brown ainda lembra que o modelo em que a Terra se move em torno do Sol apresentava, para os judeus, o mesmo problema posto para os cristãos, que era a questão da interpretação de trechos da Escritura que davam a entender que a Terra era imóvel e o Sol é que se movia.
O primeiro líder judeu a abraçar o heliocentrismo com entusiasmo foi o rabino Joseph Delmedigo, que conheceu Galileu na Universidade de Pádua e publicou um livro defendendo o modelo de Copérnico em 1629. Mas isso não foi suficiente para conseguir unanimidade entre a comunidade judaica, pois Brown conta que, em 1707, uma enciclopédia publicada pelo rabino e médico Tobias Cohen rejeitava o heliocentrismo, chamava Copérnico de “primogênito de Satã” e dizia que nenhum judeu poderia aceitar essa teoria, pois ela se chocava com as passagens bíblicas sobre a Terra imóvel. Mas, naquele mesmo século, ganhou força entre os judeus uma corrente que soube conciliar as descobertas científicas com a crença de que a Torá é a verdadeira palavra de Deus, aceitando que nem tudo no texto sagrado devia ser entendido de forma 100% literal, já que Deus estaria falando na “linguagem do dia a dia”. “Pode não parecer grande coisa para quem vê de fora, mas dentro do mundo tradicional da academia judaica foi uma mudança radical”, diz Brown, que encerra dizendo que ainda hoje há alguns judeus ultraortodoxos que rejeitam o copernicanismo (assim como ainda há católicos que fazem o mesmo), mas são um grupo sem representação nenhuma, e sem respaldo dos líderes religiosos do Judaísmo.
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