Não sei quantos dos leitores do blog são professores. E, desses, quantos lecionam Biologia. E, desse grupo ainda menor, quantos têm a evolução como parte do currículo que abordam em sala de aula. E, finalmente, quantos desses já ouviram objeções religiosas à teoria de Darwin. É esse o tema de um texto recente do professor e escritor John Horgan em seu blog (talvez você lembre de Horgan pela crítica a Lawrence Krauss que eu comentei aqui no blog faz tempo).
Horgan está dando aulas sobre evolução para duas turmas diferentes, e pediu que em ambas os alunos escrevessem sobre a oposição existente hoje à teoria de Darwin, e fossem sinceros quanto às suas convicções pessoais a respeito. A parte boa é que, dos 35 alunos, 20 defenderam a compatibilidade entre religião e evolução. Já outros seis afirmaram que a ciência tornou inúteis explicações religiosas sobre a criação, e nove rejeitaram a evolução por causa de suas convicções religiosas. Horgan citou trechos escritos por esses nove alunos. Alguns até admitem a possibilidade de mudar de ideia, se confrontados com evidências convicentes. Outros recusam a ideia de que o homem tem um ancestral comum com os macacos (na verdade, o estudante escreveu “acreditar que o homem descende do macaco”, mas vamos desculpar sua ignorância sobre a teoria).
E Horgan se pergunta: o que dizer a esses estudantes? Em primeiro lugar, ele reconhece que cientistas com uma queda por malhar a religião exageram o alcance da teoria da evolução. Apesar de ela ser a melhor explicação para a variedade da vida na Terra, não explica, por exemplo, como a vida surgiu no planeta, o que torna ridículas afirmações como a de Richard Dawkins, em O relojoeiro cego, para quem a vida “não é mais um mistério porque [Darwin] o resolveu” (estou traduzindo o texto mencionado por Horgan; é assim mesmo que está na versão brasileira?). Horgan também diz aos estudantes que nenhuma das alternativas à evolução até agora mostrou algum avanço: nem as críticas puramente científicas, nem as que invocam algum tipo de intervenção divina, como o Design Inteligente. Mas não se trata apenas de “falta de alternativa”: existe uma montanha de evidências em favor da evolução (leitores cristãos podem encontrar um bom resumo delas em Saving Darwin, de Karl Giberson, que eu resenhei no blog anos atrás). Se dá certo, Horgan não disse. Mas afirmou que, se não fizesse esse tipo de questionamento, não estaria fazendo seu trabalho direito.
Queria saber dos leitores do blog que lecionam alguma disciplina de ciência: vocês já encontraram objeções de caráter religioso por parte dos alunos? Como vocês responderam, e como a situação se resolveu?
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