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Concordismo: a palavra é boa; as ideias, nem tanto
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Leitores antigos do blog já sabem que não gosto do termo “acomodacionismo” para descrever os que defendem a harmonia entre ciência e religião. A palavra dá um tom de coisa forçada, como se estivéssemos tentando fazer passar um quadrado de borracha num buraco redondo: amassando aqui, cortando lá, acaba encaixando. Ou como se fosse uma mera questão de tolerância. Então, quando vi no site da Fundação BioLogos um texto sobre “concordismo”, fiquei animado com o termo, mas a leitura me mostrou que desperdiçaram a palavra com outro tipo de ideia.

No texto, Ted Davis explica que o termo “concordismo” já está por aí faz muito tempo. Ele descreve um tipo específico de harmonia: entre o relato do Gênesis e o registro geológico/fóssil. Até aí estamos bem. O problema é que o concordismo é, na verdade, uma variante do criacionismo de Terra antiga, também chamada de “criação progressiva”. Na sequência, Davis descreve quais são os principais fundamentos do concordismo.

Os dois primeiros são perfeitos: tanto a Bíblia quanto a ciência são fontes confiáveis sobre a história da origem do mundo. Sendo Deus o autor da Escritura e da natureza, elas não têm como estar em contradição, quando interpretadas corretamente. Isso significa aceitar sem problemas todas as descobertas da Astronomia e da Geologia que ajudam a entender como o universo e a Terra surgiram.

Reprodução
Ilustração de Charles R. Knight mostrando um brontossauro (1897): para alguns concordistas, aí estão seres que existiram antes da criação descrita no Gênesis.

Já o terceiro princípio ajuda a desfazer uma confusão infelizmente muito comum: o fato é que a Bíblia não diz a idade da Terra. Sim, temos o famoso cálculo do anglicano Ussher, mas a base bíblica é insuficiente, não importa o que digam os criacionistas de Terra jovem. Aqui é que os concordistas começam a se dividir. A maioria deles, atualmente (um exemplo, citado por Davis, é a turma do Reasons to Believe), adota a teoria de que os “dias” da criação descritos no Gênesis são eras de longuíssima duração. No entanto, conta Davis, até os anos 70 do século passado havia uma outra corrente, para a qual os dias da criação até eram literais, mas antes deles teria havido todo um passado para o mundo. Deus teria feito uma primeira criação, que durou um período indefinido. Após destruí-la, resolveu “refazer” a Terra há mais ou menos uns 6 mil anos, e é esse processo que está descrito a partir do versículo 3 do primeiro capítulo do Gênesis. Fósseis, portanto, seriam resquícios daquela primeira criação. As espécies atuais, para os concordistas, não seriam fruto de processos evolutivos, mas teriam sido criadas diretamente (e separadamente) por Deus. Só para deixar claro, obviamente eu não tenho como aceitar esse tipo de ideia.

O quarto princípio concordista está ligado ao Dilúvio. Para os que defendem esse ponto de vista, o Dilúvio efetivamente ocorreu, mas não tem absolutamente nada a ver com fósseis. Aqui fica evidente a rejeição à chamada “Geologia do Dilúvio” defendida por criacionistas de Terra jovem. Davis diz que muitos concordistas acreditam inclusive em um evento local, ocorrido em algum ponto do Oriente Médio, mas no fundo o alcance do Dilúvio pouco importa, para o concordismo; o fundamental é aceitar a coluna geológica padrão.

Em resumo, o concordismo como descrito por Ted Davis não é algo com que eu possa concordar. É melhor que um criacionismo de Terra jovem? Sem dúvida que é, inclusive porque elimina o “Deus enganador” que cria um mundo há 6 mil anos mas o faz parecer ser bem mais antigo, como se estivesse passando um trote na humanidade. Mas, ao buscar harmonizar o relato bíblico apenas com o que dizem a Astronomia e a Geologia, a conciliação fica imperfeita ao não incorporar também as descobertas da Biologia e outras ciências, que oferecem explicações melhores para a diversidade da vida na Terra.

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Prêmio Top Blog 2012
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