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Criacionismo na escola provoca debate na imprensa

No fim de semana, os dois principais jornais do país continuaram repercutindo o debate sobre o ensino do criacionismo nas escolas. No sábado, a Folha de S.Paulo publicou a visão do Ministério da Educação sobre o assunto. Resumindo: embora o ministério não possa forçar nada goela abaixo das escolas, para o MEC o criacionismo não deve ser ensinado em aula de ciências, segundo a secretária da Educação Básica, Maria do Pilar. Uma de suas frases: “[O ensino do criacionismo como ciência] é uma posição que consideramos incoerente com o ambiente de uma escola em que se busca o conhecimento científico e se incentiva a pesquisa.” É sobre essa frase que eu gostaria de me debruçar um pouco.

Até onde se divulgou por aí, não parece que o criacionismo esteja sendo ensinado como ciência – apesar de ser ensinado na aula de Ciências. Colocar Darwin e o criacionismo lado a lado em sala de aula não significa, necessariamente, colocar os dois no mesmo patamar de conhecimento. Vejo a questão do seguinte modo: Temos um fato – existe o universo, existe vida, e as espécies vão se modificando com o tempo, dando origem a novas espécies, e por aí vai. Pois bem: existe uma teoria científica que explica parte desses fatos (Darwin nunca se propôs a desvendar a origem do universo ou da vida, certo?); e temos uma outra teoria, não-científica (se entendermos “ciência” como aquela produzida em laboratório – afinal, Filosofia e Teologia também são ciências. O que quero dizer é que o criacionismo não pode ser “falseável”, como se diz de toda teoria científica), que se propõe a explicar esses mesmos fatos. Até faz sentido que essas duas teorias sejam apresentadas em conjunto na aula de Ciências, pois são explicações diferentes para as mesmas realidades; só não faz sentido que as duas sejam consideradas igualmente científicas. Sim, são nuances, mas que fazem diferença. E parece que alguns educadores entendem essas nuances, pelo que se pode ver no depoimento de alguns educadores citados mais no fim da reportagem.

E ontem o caderno Aliás, do Estadão, trouxe uma matéria de página inteira com Roseli Fischmann, coordenadora da área de Filosofia e Educação da pós em Educação da USP. Diz a reportagem que o “pisca-alerta” de Roseli acendeu quando ela viu que escolas confessionais estavam ensinando criacionismo na aula de Ciências. O meu pisca-alerta também acendeu quando li a matéria.

Quando Roseli diz “levar o criacionismo para as aulas de ciências misturado aos conceitos da teoria evolucionista é uma distorção. Não dá para confundir as lógicas. O campo da ciência não é o da salvação, nem o da iluminação, nem o do ser infalível”, ela ignora justamente a nuance que eu expus acima. Ninguém está falando de salvação, de pecado, e sim de uma versão religiosa para um fato científico. A salvação, essa sim fica apenas para a aula de Religião.

Mais tarde, Roseli vai dizer “então voltamos à imposição do criacionismo de algumas escolas no currículo de ciências. Não oferecer o conhecimento científico é sonegar esse direito às crianças e aos adolescentes”. Opa, olha a falácia! Por acaso alguma das escolas cujos currículos vêm sido revirados ao longo destes dias simplesmente não ensina Darwin? Se todas ensinam a evolução, não se pode dizer que alguém esteja “sonegando o direito ao conhecimento científico”.

Agora, o que me chamou muito a atenção foi a legenda da foto que saiu na versão impressa. Temos uma criança olhando um esqueleto de dinossauro (do qual só vemos a sombra na parede), e o texto “Embate – Criacionistas atacam Darwin e defendem que dinossauros conviveram com os seres humanos.” Tipo, hã? Confesso que nunca vi essa abordagem Flintstones do criacionismo. Se alguém tiver fontes boas de criacionistas que façam esse tipo de afirmação, este blogueiro agradece!

Reprodução
Segundo o Estadão, criacionistas defendem convivência entre homens e dinossauros. Teria sido desse jeito?

Aproveito para lembrar que dois blogueiros que eu curto muito também comentaram o assunto. No Laudas Críticas, o Maurício Tuffani faz uma série de esclarecimentos, especialmente sobre a entrevista da Roseli Fischmann. E o Reinaldo Azevedo também comenta a reportagem do Estadão.

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