No post anterior, dei minha própria opinião sobre o projeto que pretende implantar o ensino do criacionismo nas escolas da rede pública do Paraná. Enquanto escrevia, entrei em contato com alguns dos principais defensores e divulgadores do criacionismo no país para ouvir a opinião deles.
O jornalista e mestre em Teologia Michelson Borges é um dos principais divulgadores do criacionismo no Brasil e mantém um site que é referência sobre o tema. Por e-mail, ele me explicou que é contrário ao projeto. Reproduzo na íntegra o que ele escreveu ao Tubo:
Se a proposta for a de se ensinar criacionismo nas aulas de Ciências, não considero isso adequado, já que os criacionistas bíblicos não negam que sua cosmovisão, obviamente, tem fundamentos religiosos, embora também se valham do método científico para fazer suas pesquisas. E posso mencionar aqui, como exemplo desse esforço científico, o Geoscience Research Institute, localizado no câmpus da Universidade de Loma Linda, na Califórnia. Criacionistas (pelo menos os que eu conheço) defendem o Estado laico e a separação entre igreja e Estado, que deve se refletir também nas salas de aula de escolas públicas. Outro motivo para essa objeção é o fato de que dificilmente se poderão encontrar muitos professores conhecedores das propostas criacionistas e do modelo como um todo, o que poderá gerar distorções durante a exposição do assunto – algo que frequentemente já tem ocorrido nas matérias veiculadas na grande imprensa. O mais desejável, na verdade, seria o ensino crítico do evolucionismo, destacando seus aspectos científicos sem omitir suas insuficiências epistêmicas e seu conteúdo filosófico, especialmente quando se refere à origem da vida. De minha parte, não veria problemas no ensino do Design Inteligente, já que se trata de uma teoria sem fundamentação teológica.
Ainda na quarta-feira, também fiz contato com a Sociedade Criacionista Brasileira, que até o momento não respondeu. Cinco anos atrás, o blog entrevistou um dos membros da SCB, o biólogo Tarcísio Vieira. Reproduzo aqui a pergunta final da longa entrevista, que ajuda a conhecer melhor o que pensam os criacionistas. Mas ressalto que ainda espero um retorno da SCB para saber se a posição atual deles ainda é a mesma expressa em 2009 por Vieira.
Diante das inconsistências apontadas pelo senhor na teoria evolucionista, o criacionismo também deveria ter espaço nas escolas?
Conhecedores da laicidade de nosso Estado, os simpatizantes do criacionismo bíblico que estejam realmente familiarizados com a questão não argumentam em favor da inserção do criacionismo nos currículos escolares e universitários nas escolas públicas, uma vez que, como discorrido acima, o criacionismo não é uma teoria científica e está associado ao conhecimento religioso.
A SCB, por meio de seu presidente, também se manifesta totalmente contra o ensino do criacionismo nas escolas e universidades públicas. Além da questão da laicidade do Estado, temos a escassez de profissionais devidamente versados em criacionismo bíblico advindos de nossas universidades, pois todos os cursos universitários apresentam em sua grade curricular propostas para o ensino apenas das teses evolucionistas. Consequentemente, não há formação de profissionais devidamente conhecedores do modelo criacionista e muito menos aptos a defender suas teses.
Não existe interesse, ao contrário do que é divulgado pela mídia, de que as teses defendidas pelo modelo criacionista substituam a teoria da evolução ensinada nas escolas e universidades; isto é absurdo! Obviamente, não há nenhuma oposição ao ensino do modelo criacionista em escolas que se denominam confessionais, uma vez que há abertura constitucional para isto. Mas as teorias de evolução também devem ser ensinadas.
O blog segue aberto para manifestações de outros criacionistas a respeito do projeto de lei que tramita na Assembleia Legislativa do Paraná (o texto do projeto e sua justificativa estão aqui).
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