Algumas notícias curtinhas nesta sexta-feira de sol em Curitiba.
ETs, Big Bang e Deus
De 22 a 24 de junho ocorreu a SETIcon, a conferência de ciência e ficção científica do Seti, aquele grupo dedicado à procura por vida extraterrestre inteligente. E pelo menos dois painéis (com a participação de um bocado de gente que nos acostumamos a ver em canais como o Discovery e o History) trataram de temas de ciência e religião, segundo os relatos que vi pela internet; pena que as discussões propriamente ditas não estejam disponíveis em vídeo.
Um dos temas era o efeito da descoberta de ETs sobre as religiões do mundo. E, segundo os cientistas e escritores de ficção científica que participaram do painel, haveria, sim, um choque inicial, mas o efeito de mais longo prazo não seria tão grande assim. Primeiro, porque a espécie humana já se acostumou a não ser o “centro do universo”, apesar de as escrituras judaico-cristãs e islâmicas ressaltarem a preocupação especial de Deus com a Terra e a humanidade (embora ser “especial” não signifique ser único). Segundo, porque muita gente já acha que os ETs existem mesmo e nem por isso largaram a igreja. Os debatedores citaram exemplos de ocasiões no passado em que descobertas como os canais de Marte foram interpretados como fortes indícios de vida inteligente fora da Terra, e os líderes religiosos não se abalaram. Um caso mencionado foi o de um pastor batista na Geórgia que nega a evolução mas não vê nenhum problema com vida inteligente em outros planetas. Entre os católicos, que eu saiba, quem costuma tratar do assunto são os astrônomos jesuítas José Funes e Guy Consolmagno, ambos do Observatório Vaticano, e nenhum dos dois parece ver maiores problemas com a eventual descoberta de ETs.
Outro painel tratou da necessidade (ou não) de uma “faísca divina” no Big Bang. A conclusão dos pesquisadores é de que não; o Big Bang pode ter vindo de outra fonte, mas atenção!, acrescentam, isso não significa negar a existência de Deus, diz Alex Filippenko (que vocês conhecem da série O Universo, do History Channel). Em outras palavras, os panelistas aceitam as explicações que vêm sendo promovidas por Stephen Hawking e Lawrence Krauss sobre o surgimento do universo, mas não compram as conclusões metafísicas da dupla (que, como sabemos, demonstra um conhecimento filosófico e teológico bem fraquinho). A única coisa que Filippenko parece não ter entendido direito é que, por definição, Deus é incriado, então a pergunta “tá, mas de onde veio o criador?” não se aplica porque um criador que “viesse de algum lugar” seria criatura, e não a causa primeira do universo.
Falando em faísca…
Lembram daquele químico milionário que iria oferecer uma bolada para linhas de pesquisa que conseguissem comprovar uma origem não sobrenatural para o surgimento da vida na Terra? As três propostas mais promissoras acabaram de ser selecionadas. Todas elas, de um ou outro jeito, usam como pista o RNA e partem do pressuposto de que a vida surgiu aqui mesmo, em nosso planeta, sem ter sido trazida de fora por meteoritos ou coisa semelhante. Eu torço pelo sucesso das pesquisas, que contribuirão para dar mais um golpe no “Deus das lacunas”, essa caricatura grotesca que repetidamente criticamos aqui no blog.
Infográficos
Achei dois infográficos interessantes no site da Fundação BioLogos. Como curto muito a apresentação gráfica de informações, divido com vocês. O primeiro aborda o conflito entre evolução e criacionismo nos Estados Unidos, com divisões de acordo com escolaridade, filiação política e frequência à igreja, entre outros itens:
O segundo faz uma comparação entre as convicções de cientistas e do público em geral a respeito da existência de Deus (veja em tamanho normal). Destaco o fato de que, embora a proporção de não crentes entre os cientistas seja muito maior que entre a população em geral, dentro do grupo dos cientistas a divisão entre crentes e não crentes fica praticamente na metade da linha. Então, se você já ouviu em algum lugar que a esmagadora maioria dos cientistas não crê em Deus, pode desconsiderar. Outro resultado interessante mostra que entre os cientistas mais jovens a proporção dos crentes é maior. Isso pode significar duas coisas: ou que teremos no futuro mais cientistas conciliando ciência e fé, ou que os cientistas tendem a perder a fé à medida que seguem pesquisando. Difícil arriscar uma resposta.
——
Você pode seguir o Tubo de Ensaio no Twitter e curtir o blog no Facebook!
——
Prêmio Top Blog 2012
Demorou um pouco mais que nos anos anteriores, mas este ano vai ter Top Blog de novo. O Tubo de Ensaio venceu em 2010 e 2011 na categoria “religião / blogs profissionais / voto popular”, e conta de novo com o apoio dos leitores para chegar ao tricampeonato. A votação da primeira fase, no entanto, começa só em 14 de julho.
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS
Deixe sua opinião