Na semana passada, o presidente Obama nomeou o geneticista Francis Collins para comandar o National Institute of Health (NIH) norte-americano. A notícia passou quase incógnita por aqui, então vejam como o fato foi noticiado pela Scientific American e pela Reuters.
Collins é um grande nome do debate entre ciência e religião. Era ateu e se converteu ao protestantismo, tendo escrito o best-seller A linguagem de Deus. A nomeação causou uma certa reação negativa por parte do ateísmo militante, como se pode ver pelo Portal Ateu, de Portugal. O mesmo site traz as opiniões de Jerry Coyne e Steven Pinker sobre a decisão de Obama. O problema, claro, não é o currículo de Collins. Afinal, ele foi “apenas” diretor do Projeto Genoma (embora o redator do Portal Ateu o classifique como “mente científica razoável”…). O problema é justamente sua posição em favor da conciliação entre ciência e fé, e sua forte convicção religiosa.
Mas permitam-me apresentar um ponto de vista diferente (via @Caio_Capelari). É um artigo na Newsweek, escrito por Chris Mooney (ateu) e Sheril Kirshenbaum (agnóstica, de origem judia). Para eles, cientistas que atacam a religião são os que mais dano causam à ciência. “Os Estados Unidos precisam de mais cientistas como Collins; pesquisadores que mostram, pela sua importância e seu exemplo, que um bom cientista ainda assim pode ter crenças religiosas”, afirmam. O raciocínio da dupla é parecido com o que já temos discutido aqui: autores-cientistas como Dawkins criam uma polarização que força as pessoas a escolher entre ciência e fé. O resultado? Uma crescente rejeição à ciência. Aí vemos coisas como o recrudescimento dos criacionismos de Terra jovem, por exemplo.
Fica, então, a pergunta: de que tipo de cientistas precisamos? Não basta que um pesquisador seja bom no seu campo, ele também precisa militar em outras áreas? Um cientista brilhante que se manifeste publicamente sobre outros assuntos merece ser avaliado também por suas posições, e não apenas por seu mérito científico?
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