Dias depois que as primeiras imagens do novo telescópio espacial James Webb foram divulgadas, publiquei aqui no blog algumas reflexões sobre o significado dessas imagens, que nos revelam mais sobre a grandiosidade do universo e o nosso lugar nele. Com um atraso indesculpável de um mês, trago para os leitores as palavras de Deborah Haarsma, doutora em Astronomia e presidente da fundação BioLogos, que tem como objetivo ajudar o público evangélico a conciliar sua fé cristã com a ciência em todos os seus ramos. Ela participou do podcast Language of God, da própria BioLogos, e deu uma aulinha sobre o James Webb e sobre como o universo funciona antes de falar um pouco sobre as implicações “teológicas” dessa nova enxurrada de imagens impressionantes.
O apresentador do podcast, Jim Stump, perguntou a ela sobre multiverso, sobre a procura por vida fora da Terra, e sobre o que as imagens do James Webb significam para quem crê. “O que é interessante sobre essas imagens é que elas nos mostram dados astronômicos, mas todos estamos imediatamente acrescentando outras camadas de significado sobre elas”, diz Haarsma. No caso dela, como uma astrônoma cristã, “lemos no Salmo 19 que ‘os céus proclamam a glória de Deus’ (...) e então vemos o céu à noite, vemos essas imagens, e então nos damos conta, uau, isso é verdadeiramente lindo, poderoso e glorioso. Isso amplia sua imaginação, sua capacidade de refletir sobre o quão maravilhoso Deus é ao ver aquilo que Deus fez. Então, acho que estamos diante de uma forma impressionante de os céus proclamarem a glória de Deus”.
Haarsma ainda disse que as igrejas não deviam desperdiçar essa oportunidade, e contou como a igreja que ela frequenta expôs as primeiras fotos do James Webb no domingo seguinte à sua divulgação, com leituras dos salmos 8 e 18(19), e hinos sobre a grandeza do criador (o que ela cita tem versão em português, Quão grande és Tu). Ela afirma:
“Muita gente viu essas imagens, e é fácil para as igrejas trabalhar com elas. Você não precisa entrar nos detalhes complicados, basta louvar o Deus Criador. É um passo maravilhoso para mostrar a todos na igreja que sim, isso pode ser parte da sua vida de fé – especialmente para os jovens que amam a ciência. Eles estão acompanhando as notícias, mas nem sempre veem a ligação entre aquilo que amam e o que acontece na igreja (...) Quando você traz as recentes descobertas científicas para o culto ou o sermão, mostra às pessoas que ‘ei, minha igreja se importa com a ciência e a leva a sério’.”
Quer antídoto melhor contra a ideia de que as igrejas são hostis à ciência?
James Webb vs Georges Lemaître? Calma lá!
E, já que estamos falando do James Webb, recomendo aqui uma live feita na sexta-feira passada pelo astrofísico Alexandre Zabot, professor da Universidade Federal de Santa Catarina, sobre algumas notícias que pipocaram por aí a respeito de alguns dados produzidos pelo novo telescópio espacial e que levaram a conclusões bastante precipitadas sobre uma suposta “ameaça” à teoria do Big Bang. Zabot, que tem um curso de Astrofísica gratuito que eu recomendo de olhos fechados (mesmo sem ter feito), destrincha como o James Webb funciona (e as diferenças em relação a seus antecessores, como o Hubble); o que os dados realmente estão dizendo e quais são suas limitações; como a imprensa (especializada ou generalista) interpretou esses dados; e como eles se relacionam com a teoria do Big Bang.
Conferência nacional da ABC2 em Curitiba
Não deu certo mesmo com o Museu Oscar Niemeyer, mas isso não desanimou a Associação Brasileira de Cristãos na Ciência, que foi atrás de um novo local para sua conferência nacional em Curitiba e fechou com o Teatro Paulo Autran, no Shopping Novo Batel. As inscrições já estão abertas, o evento ocorre de 2 a 5 de novembro e os palestrantes estão sendo anunciados aos poucos. A principal estrela, infelizmente, não vem a Curitiba: Peter Harrison, professor da Universidade de Queensland (Austrália) e autor de Os territórios da ciência e da religião, falará por vídeo (leia a entrevista que ele deu ao Tubo de Ensaio alguns anos atrás).
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