Está repercutindo nos meios evangélicos e ligados ao ensino superior nos Estados Unidos a notícia da pressão que dois professores do Calvin College, no estado do Michigan (se não me engano, ligado à Igreja Cristã Reformada) começaram a ser pressionados depois de terem escrito artigos acadêmicos sugerindo que as evidências biológicas favorecem uma leitura não literal da Bíblia. Um dos professores, John Schneider, fez um acordo para deixar a faculdade após 25 anos de casa. O outro professor, Daniel Harlow, segue resistindo.
Antes que alguém resolva tratar esse caso como um exemplo da impossível conciliação entre ciência e religião, vale lembrar que os artigos de Schneider e Harlow saíram na revista de uma entidade de cientistas cristãos. Nem Schneider, nem Harlow questionam a existência de Deus, por exemplo. A própria faculdade tem um pronunciamento sobre a evolução (considerando que o nome do PDF menciona a data de 10 de maio de 2010, mas o documento é de fevereiro de 2011, suponho que a celeuma provocou uma atualização do texto) em que considera a evolução a melhor explicação existente para a diversidade da vida na Terra. Quem está provocando o conflito, na verdade, é um grupo de cristãos aferrados a uma leitura 100% literal da Bíblia.
Eu sou da opinião de que escolas confessionais não devem “esconder” sua identidade; o que ocorre hoje, na maioria dos casos, é que, em nome de “não ofender” alunos de outras religiões, a escola praticamente anula o fator confessional, e aí temos situações como PUCs dominadas por professores de esquerda que adoram atacar a religião, por exemplo, ou mesmo escolas de ensino fundamental ou médio nas quais as aulas “de religião” se resumem a ensinar o relativismo à criançada. Para mim, os pais e alunos de outras que religiões recorrem a uma escola confessional o fazem de forma consciente, e devem estar preparados para ouvir afirmações de cunho religioso que possam contrariar sua crença.
Mas a situação do Calvin College é um tanto diferente. Ali não é o caso de um estudante da religião X que ouve uma afirmação sobre a veracidade da religião Y; o que temos ali é uma reação extremada a um questionamento baseado em evidências científicas. De fato, parece que os professores teriam violado uma declaração que todo docente de escolas vinculadas a esse grupo precisam assinar, mas, do meu ponto de vista, a falha maior é daqueles que se recusam a seguir o bom e velho conselho de são Roberto Belarmino: se a evidência científica parece contradizer a Bíblia, o certo não é jogar fora a evidência, e sim considerar que a nossa interpretação da Bíblia é que pode estar errada.
A votação para a edição 2011 do Prêmio Top Blog vai até 11 de outubro. Ano passado, o Tubo de Ensaio, concorrendo na categoria “religião/blogs profissionais”, foi o vencedor pelo voto popular. Vamos tentar o bicampeonato e buscar melhorar a posição no júri acadêmico, em que o Tubo terminou em terceiro lugar na edição 2010. Para votar, clique aqui, ou no selo ao lado. À medida que outros blogs da Gazeta do Povo forem se inscrevendo no prêmio, vocês saberão aqui como votar neles também.
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