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Tubo de Ensaio

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Ciência, religião e as pontes que se pode construir entre elas

Fake history

Deu a louca no editor

galileu
"Meu jovem, o que ainda vão escrever de besteira sobre mim não está no gibi." (Foto: Wikimedia Commons/Google Art Project)

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A coluna Estado da Arte, do Estadão, publicou hoje um trecho de Galileu e a Nova Física, obra de Pablo Rubén Mariconda e Júlio Vasconcelos. Os autores argumentam que Galileu pode ser descrito como “o primeiro cientista moderno”, e vão apresentar os motivos que justificam essa afirmação. Descrevem o que chamam de “filosofia de Galileu” e as suas contribuições metodológicas para o desenvolvimento da ciência. Enfim, é um texto bastante sensato, equilibrado, analítico. E aí o editor responsável pela home page do Estadão vai lá e me bota uma barbaridade dessas:

Isso é o que podemos chamar de "estado da arte" da fake history.

Sério mesmo? “Morto”? Isso nem os mais radicais defensores da tese do conflito entre ciência e fé dizem mais. Ao menos não os que têm algum conhecimento histórico mínimo sobre a vida de Galileu, que morreu de causas naturais, quase dez anos depois de sua última condenação pela Inquisição, em paz com a Igreja e recebendo os últimos sacramentos. “Pelo negacionismo”? Quer dizer que aqueles que “mataram” Galileu agora merecem o insulto da moda, “negacionistas”, porque quatro séculos depois sabemos que eles estavam errados sobre a posição dos astros no céu? A esse respeito, aliás, já lembrei no blog que, se formos pensar bem, mas bem mesmo, quem hoje defende “ciência, ciência, ciência”, se fosse transportado para 1616 ou 1633, provavelmente estaria mais alinhado com a Inquisição que com Galileu.

Muito tempo atrás, eu tinha um outro blog pessoal chamado “Pai, perdoai-lhes; eles não sabem o que escrevem”, em que comentava erros da imprensa a respeito da Igreja Católica, desde besteiras básicas como chamar a CNBB de “Confederação” em vez de “Conferência” até erros factuais, doutrinais ou históricos. Pois temos um novo integrante no grupo seleto em que estão o sujeito que enforcou Jesus na Folha de S.Paulo; os que afirmam que, segundo a Igreja, os negros não tinham alma; e os que acham que indulgência é “perdão dos pecados”: um editor do Estadão que, provavelmente doidinho para lacrar em cima da palavra do momento, “negacionismo”, matou Galileu. Se serve de consolo, podia ser pior, pois já ouvi de um estudante que a Inquisição tinha executado Galileu porque ele afirmou que a Terra era esférica...

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