Quando o assunto é Aids, muitos lembram como Uganda conseguiu reduzir as taxas de contaminação usando a pedagogia do “ABC” (abstinência, fidelidade e camisinha, necessariamente nesta ordem), enquanto outros países africanos continuavam a ser devastados pela epidemia. Mesmo assim, o Papa Bento XVI foi duramente atacado quando, no avião que o levava a Camarões, em 2009, afirmou que a mera distribuição de preservativos não resolveria o problema da Aids na África; pelo contrário, apenas agravaria a situação.
No começo do mês, o site PloS Medicine publicou um estudo de um time de pesquisadores que incluía gente da Universidade Harvard, das Nações Unidas e do Imperial College londrino, além de cientistas do Zimbábue, que oferece uma explicação para a redução das taxas de incidência da Aids naquele país (pela página linkada dá para baixar o PDF). Enquanto o uso de preservativos se manteve em níveis estáveis entre o fim da década de 90 e o meio da década passada, a atividade sexual fora do casamento teve uma forte diminuição. O texto ressalta que esta mudança não tem necessariamente uma motivação moral: embora as igrejas também façam suas campanhas, os pesquisadores apontam dois fatores que tiveram, em sua opinião, uma influência maior neste novo comportamento: o impacto da doença entre a população, com parentes e amigos mortos devido à Aids; e a crise econômica, que tornou mais difícil tanto manter um relacionamento extraconjugal quanto pagar por sexo em um bordel.
Logo depois das declarações do Papa, Edward Green, também da Harvard e uma referência em pesquisas sobre Aids, afirmou que Bento XVI podia muito bem estar certo quando falou sobre a Aids na África (Green ressaltou que em outros países, onde a Aids se espalha principalmente por meio da prostituição, a estratégia de distribuição de camisinhas era bem mais eficaz). Agora, esta nova pesquisa reforça: o melhor jeito de combater a Aids passa pela adoção de comportamentos mais condizentes com a dignidade humana, ainda que as pessoas mudem seu jeito de agir por pragmatismo, e não por uma maior consciência moral.
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