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E se a evolução for uma lorota?
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Essas questões do tipo “e se…?” normalmente são mero chutômetro. “Se minha avó não tivesse morrido, estava viva até hoje”, como diz um parente meu. Mas hoje o blog da Fundação BioLogos publicou uma reflexão interessante. É a segunda parte de The Theological Dilemma of Evolution, de Gordon Glover, autor de Beyond the firmament: understanding science and creation. E a pergunta que ele se faz é justamente essa do título do meu post. E se Darwin entendeu tudo errado, ou inventou tudo aquilo? E se a evolução realmente nunca aconteceu, e os criacionistas estão certos? Quais as implicações teológicas disso?

O raciocínio inicial é o mesmo que Urbano VIII apresentou a Galileu (e que o astrônomo florentino resolveu colocar na boca do personagem mais tonto de seu Diálogo): Deus, sendo Todo-Poderoso, poderia ter feito o universo do jeito que bem entendesse. Acho que nenhum crente faria uma objeção a isso. Glover dá o exemplo das uvas. Deus pode transformar água em vinho usando apenas Sua vontade, e consta que pelo menos uma vez Ele fez isso.

Reprodução
“Bodas de Caná”, do flamengo Gerard David. Consta que o vinho era dos melhores, mas não exigiu nenhuma uva excepcional.

Mas é justamente porque esse tipo de coisa não ocorre todo dia que a transformação de água em vinho dessa maneira é considerada um milagre. Normalmente, você precisa de uvas (e do tipo certo), tempo para fermentar, e por aí vai. É um processo natural, sujeito a leis, verificável em laboratório e nas vinícolas (assunto interessante para uma noite de sexta, não?). E, assim como o vinho, o mundo todo parece regulado por esses processos. Para surgir algo novo, é necessária uma matéria pré-existente e relações de causa e efeito, como as que levam os meninos a terem cromossomos Y exatamente iguais ao de seus pais, e todos nós a termos mitocôndrias exatamente iguais às de nossas mães.

A evolução por seleção natural é um desses processos. Existem várias evidências que apontam não apenas para a veracidade dos processos evolucionários, mas também para um Big Bang, um universo de 13 bilhões de anos, uma Terra de mais ou menos 4,5 bilhões de anos… o que indicaria que os criacionistas de Terra jovem estão todos errados, a não ser que…

… a não ser que Deus usasse Sua onipotência para ter criado o universo em seis dias de 24 horas, os animais todos individualmente da maneira como são hoje, e, para completar o trabalho, ainda tivesse feito tudo parecer como se a história da criação fosse diferente. Ou seja, a coluna geológica aponta para um planeta velho, mas a realidade seria um planeta de 6 mil anos. As espécies apenas pareceriam ter evoluído, mas na verdade aquele monte de fósseis não passaria de pistas falsas plantadas por Deus para nos levar a pensar de outro modo.

Poderia ter sido assim? Dizer que não é negar a onipotência divina. Mas aceitar uma ideia dessas traz uma série de problemas teológicos. A Bíblia está cheia de passagens segundo as quais a criação revela a grandeza do Criador. “É a partir da grandeza e da beleza das criaturas que, por analogia, se conhece o seu autor”, diz o livro da Sabedoria (13,5). Mas, se Deus tivesse feito o mundo de uma forma e nos levado a concluir que ele foi feito de outra, “a grandeza e a beleza das criaturas” não nos daria nenhuma pista sobre o Criador.

E por que Deus faria isso? Para realçar a importância da fé? Mas, como diz João Paulo II, são duas as asas que levam o homem ao conhecimento da verdade: a fé e a razão. Se a ciência só nos levasse a pistas falsas sobre o universo, a razão humana se tornaria inútil. Além do mais, e nisso todo cristão concordará comigo, Deus é a suma verdade. Sendo assim, Ele não poderia enganar os homens.

Assim, em poucos parágrafos conseguimos reunir uma série de objeções teológicas nada inofensivas para o caso de a evolução apenas parecer ser verdadeira, mas não o sê-lo. Essa hipótese poderia ser uma saída para um criacionista de Terra jovem que não rejeitasse a evidência biológica e geológica, mas, como podemos ver, também leva a um beco sem saída.

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