Semana passada terminou o leilão de uma carta de Albert Einstein escrita a um colega físico, professor da Universidade La Sapienza, em Roma. Acabou arrematada por US$ 75 mil; o leiloeiro deve estar feliz, pois o lance inicial era de apenas US$ 5 mil, mas ainda assim é bem menos que os milhões pedidos em uma outra carta de Einstein vendida pouco mais de dois anos atrás.
Escrevendo em italiano (idioma que Einstein conhecia, por ter vivido por um tempo na Itália) a Giovanni Giorgi, Einstein diz compartilhar das críticas feitas por Giorgi aos experimentos de um outro físico, que pretendia demonstrar a existência do éter. “Deus criou o mundo com mais elegância e inteligência”, afirma o alemão (no original, Dio ha creato il mondo con più eleganza e intelligenza). No caso, “mais elegância e inteligência” na comparação com a teoria que Einstein e Giorgi estão criticando.
O próprio site do leiloeiro explica esse trecho: “A discussão sobre Deus como criador também é fascinante. Embora não acreditasse em uma dividade pessoal, Einstein não tinha restrição a falar de Deus em um contexto científico quando discutia interpretações divergentes da física quântica. Em 1929, ele disse que acreditava ‘no Deus de Spinoza, que se revela na harmonia de tudo o que existe’ e, em 1950, escreveu que ‘se há algo em mim que pode ser chamado de religioso, é a ilimitada admiração pela estrutura do mundo, naquilo que nossa ciência pode revelar’. É essa concepção de Deus que aparece nesta carta, com a ideia de um mundo projetado com ‘inteligência e elegância’ correspondendo a essas noções de harmonia estrutural. Eram essas estruturas harmônicas, as coisas no âmago da criação, que Einstein, como físico, esperava desvendar e descrever em sua busca por conhecimento, criando uma ponte entre o científico e o espiritual”. Uma descrição da espiritualidade peculiar de Einstein pode ser encontrada no livro Galileo goes to jail and other myths about science and religion. É o mito 21, com texto de Matthew Stanley.
Mas e a outra carta, então, na qual Einstein escrevia que “A palavra Deus é, para mim, nada mais que a expressão e o produto de fraquezas humanas“? Bom, existem quase 30 anos de diferença entre uma e outra. É tempo mais que suficiente para alguém mudar de ideia sobre qualquer assunto. Só não me façam como alguém (devia ter guardado o link, mas não me ocorreu na hora) que estava comentando no Facebook o leilão dessa carta em italiano e escreveu, no Facebook, que agora tinha certeza de que a carta de 1954 era uma farsa produzida por neoateus…
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