O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, acha que Galileu foi queimado por acreditar que Terra era redonda. (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)| Foto:

Claro que está repercutindo muito a informação de que, se Dilma Rousseff realmente for afastada pelo Senado nos próximos dias, o novo ministro da Ciência e Tecnologia será um pastor licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus que, ainda por cima, é criacionista.

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Um desastre em vários sentidos. Mas não porque o sujeito seja religioso, como insinuou o presidente nacional do PSB, para quem ciência e religião não devem andar juntas. Há vários motivos para questionar a indicação de Marcos Pereira, mas o fato de ele ser religioso não deveria, de maneira alguma, estar entre eles. Aliás, foi a mesma coisa que eu disse aqui quando se lançou o nome de Gabriel Chalita para a mesmíssima pasta, no início de 2013. Gente religiosa, e que não esconde sua fé, tem feito ótimos trabalhos no comando de órgãos de Estado, como é o caso de Francis Collins no National Institutes of Health norte-americano. Mas existe uma diferença fundamental aqui: Collins é também cientista, e um dos melhores em sua área. Nas mídias sociais, Pereira se defendeu dizendo que não é preciso ser da área para assumir um ministério, e deu exemplos como os de Fernando Henrique Cardoso, que não era economista e foi ministro da Fazenda (ótimo, aliás) e José Serra, que não era médico e foi ministro da Saúde. Mas ambos tinham experiência prévia como gestores. Qual é a experiência de Pereira?

Sim, considero absurdo ter no comando de um Ministério de Ciência e Tecnologia alguém que nega um pilar básico da biologia, que é a Teoria da Evolução. E ainda por cima se diz criacionista por ser cristão, ao afirmar “eu, como cristão, acredito na teoria do criacionismo”, como se ser criacionista fosse uma consequência necessária de ser cristão, o que é um erro grotesco.

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(aliás, o jornalista Fernando Rodrigues também escorrega feio quando define o criacionismo como uma “teoria baseada na Bíblia segundo a qual o mundo teria sido criado por Deus a partir do nada”. Criacionismo não é isso; ele se define principalmente por ser uma negação da Teoria da Evolução, especialmente na sua vertente de “Terra jovem”, que nega não só a biologia, mas também a geologia e a astronomia a respeito da idade da Terra e do universo)

Pereira garante que, se for ministro, não vai misturar as coisas. Mas o país precisa realmente pagar pra ver? Não seria melhor colocar um cientista de prestígio, com capacidade de gestão e que demonstre respeito pela religião?

E, para não ficarmos apenas no ministério futuro, temos também, no ministério presente, Aloizio Mercadante, que anda revoltado com projetos de lei que tentam livrar as escolas do proselitismo político-ideológico e das tentativas de impor certa engenharia social tão ao gosto da esquerda. Ao anunciar que o governo iria à Justiça contra um projeto aprovado no estado de Alagoas, o ministro soltou a seguinte pérola: “Não podemos voltar ao tempo da Inquisição, em que Galileu Galilei foi queimado porque achava que a Terra era redonda, e a fé não [achava]”. Alguém pode dizer ao quase ex-ministro que Galileu morreu de velhice, em sua casa, tendo inclusive recebido os últimos sacramentos? E que sua condenação não teve nada a ver com a esfericidade da Terra, que era dada como certa por praticamente todo o mundo ocidental bem antes de Galileu?

Pois é, leitores, estamos bem de ministros, atuais e futuros…

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(Aviso: o blog entra em férias e volta no começo de junho)

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