Quando assisti à palestra de Peter Clarke no curso de ciência e religião em Cambridge, em julho do ano passado, ele já havia dito que boa parte dos estudos neurológicos recentes indicavam que não existia um ponto específico ligado à religiosidade no cérebro das pessoas. Então, quando li uma matéria do Kansas City Star dizendo “contrary to previous theory, there is no one ‘God spot’ in the human brain”, só posso imaginar que a repórter estava querendo dar uma esquentada no assunto.
De fato, uma nova pesquisa dá mais força à ideia de que a espiritualidade envolve diversas partes do cérebro. Brick Johnstone, da Universidade de Missouri, estudou pessoas que tiveram seu lobo parietal direito afetado por algum tipo de trauma. Essa região do cérebro, já se sabia, influencia pensamentos relativos à própria pessoa. Os pesquisados descreviam um maior senso de ligação com um “poder superior”. Até já posso imaginar um ou outro ateu sorrindo ao pensar na ligação entre “espiritualidade” e “lesão cerebral”, mas o próprio Johnstone já afirma que uma coisa não tem nada a ver com a outra: padrões parecidos já foram encontrados em freiras franciscanas e monges budistas cujos cérebros não tinham sofrido nenhum tipo de trauma, segundo o press release da universidade.
O pulo do gato está no fato de o hemisfério direito do cérebro ser, em geral, associado à relação do indivíduo consigo mesmo, enquanto o hemisfério esquerdo direciona a relação da pessoa com os demais. É bem verossímil supor que pessoas com um hemisfério esquerdo mais ativo que o direito sejam menos centradas em si mesmas e, assim, estejam mais abertas à espiritualidade, seja na forma de práticas religiosas, seja em um direcionamento à caridade ou mesmo a uma conexão maior com a natureza, o que não depende de religião. O que Johnstone também encontrou, e aí voltamos ao ponto de que não existe uma única área cerebral responsável pela espiritualidade, foi uma ligação entre atividade no lobo frontal: maior atividade naquela religião estava relacionada a uma maior frequência a cerimônias religiosas. Ao Kansas City Star, o cientista ainda disse que “isso também apoia a noção de que nossa espiritualidade está baseada no cérebro, em vez de ser dada por Deus”. Sério? Pelo menos para mim está bem claro que uma coisa é descobrir como o cérebro processa as informações relativas à espiritualidade; outra coisa é decifrar sua origem última (ou primeira, como for). Aí sim, parece coisa puramente da cabeça do pesquisador…
E, só porque hoje é sexta, recupero um vídeo publicado lá nos começos do blog, em que o John Cleese anuncia outra descoberta muito caçada pelos cientistas: o gene responsável pela crença em Deus.
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