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Estudantes universitários rejeitam a tese do conflito entre ciência e fé
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Graças a um artigo de Matt Rossano no Huffington Post descobri uma pesquisa interessante feita com universitários norte-americanos. Christopher Scheitle, da Universidade do Estado da Pensilvânia, analisou dados de uma pesquisa com cerca de 14 mil universitários que haviam respondido a um questionário quando eram calouros em 2003 e voltaram a preencher um novo questionário em 2007. Os resultados foram publicados na edição 50 do Journal for the Scientific Study of Religion.

Andrea Hill/iStockphoto
A maioria dos universitários norte-americanos não compra o discurso de que ciência e religião estão em lados antagônicos.

Os estudantes foram questionados, entre outras coisas, sobre como viam a relação entre ciência e religião, e tinham quatro respostas possíveis: “conflito, e estou do lado da ciência”; “conflito, e estou do lado da religião”; “independência: eles se referem a diferentes aspectos da realidade” (é a formulação de Stephen Jay Gould); e “colaboração: eles podem oferecer apoio mútuo”. No fim,

• 69% dos pesquisados viam a relação entre ciência e fé como sendo de independência ou colaboração, e os outros 31% consideravam haver um conflito, com 14% do total se dizendo do lado da religião, e 17% do lado da ciência.

• Em nenhuma área de estudo a visão de “conflito” foi a maioria, embora entre os universitários no ramo da educação tenham chegado a um preocupante índice de 41,5% de “conflito” (a maioria, no caso, preferindo a religião); no ramo de negócios, o “conflito” teve 38,9%.

• Na outra ponta, os menores índices de “conflito” estavam em artes e humanidades (26,1%, a maioria tendendo para a religião), ciências sociais (27%, também com a maioria deles escolhendo o lado da religião) e, adivinhem?, ciências naturais (29,7%, mas com a maioria deles escolhendo a ciência).

A primeira conclusão é a de que, apesar de o discurso mais reproduzido atualmente na mídia e no ambiente universitário ser o de conflito entre ciência e fé, os estudantes não estão comprando esse discurso. Mesmo assim, considero preocupante ver que justamente na área da educação quase metade dos estudantes ainda crê em uma oposição entre ciência e fé.

A tabela 5 tem outro dado bem interessante, e mostra a mudança de opinião dos estudantes à medida que avançam nos estudos universitários, mostrando que é mais provável se mover de uma avaliação de “conflito” para uma de “independência” ou “colaboração” do que no sentido contrário. Alguns exemplos:

• Dos calouros que marcaram “independência” ou “colaboração”, só 13% mudaram para uma posição de “conflito” quatro anos depois.

• Já entre os que entraram na faculdade acreditando no conflito e escolhendo o lado da religião, 70,8% tinham mudado de opinião para “independência ou colaboração” (1,8% permaneceram acreditando em conflito, mas passaram a escolher o lado da ciência).

• Dos que, quando calouros, marcaram “conflito, e eu estou do lado da ciência”, pouco mais da metade (53,2%) manteve a opinião quatro anos depois; 45,9% se moveram para uma posição de “independência ou colaboração”, e apenas 0,9% mantiveram a abordagem de conflito, mas passando para o lado da religião.

• Entre os calouros da área de ciências naturais que começaram a faculdade marcando “conflito, pró-ciência”, mais da metade mudou para uma posição de “independência” ou “colaboração”, como mostra a tabela 6.

Minha avaliação é de que os resultados são ainda mais curiosos se considerarmos que a discussão sobre ciência e religião é ainda mais polarizada nos Estados Unidos que em outros países. Um bom sinal, evidentemente.

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