No dia 14, em Campinas (SP), terá início o 1.º Congresso Brasileiro de Design Inteligente, cujo nome, bom, é autoexplicativo. E, se você olhar o elenco do evento, verá que não é exatamente um negócio qualquer; tem a participação de alguns cientistas respeitados, como Marcos Eberlin, da Unicamp. A Folha de S.Paulo publicou uma reportagem sobre o tema, assinada pelo Reinaldo Lopes, que também mantém o ótimo blog Darwin e Deus.
E, quando o Reinaldo foi divulgar a reportagem que tinha feito em seu perfil pessoal no Facebook, surgiu a discussão, que podemos resumir no primeiro comentário, do Salvador Nogueira: “você teve coragem de gastar papel na Folha com isso aí? Propaganda indireta para os picaretas”. A partir daí, rolou uma conversa com argumentos ótimos de ambos os lados, e envolvendo pesos-pesados do jornalismo científico como o próprio Nogueira e o Maurício Tuffani, ambos também blogueiros do UOL/Folha. Recomendo que vocês leiam os argumentos de ambos (o post pode ser visto por qualquer um que tenha cadastro no Facebook. “Minha vida é um livro aberto. Por isso que eu sofro tanto com leitor troll”, brincou o Reinaldo quando perguntei a ele se o post era fechado…)
E aí deixo meu humilde palpite. Concordo que não é qualquer bobagem que merece divulgação na imprensa. Mas acontece que o Design Inteligente (e este congresso em particular) não é “qualquer bobagem”. É um movimento consolidado nos Estados Unidos e que está ganhando terreno no Brasil, queiramos ou não (o Salvador Nogueira acredita que eles não são tão fortes assim, mas, agora que tiveram divulgação em um jornal de alcance nacional, seu crescimento virou uma profecia autorrealizável). Trazê-lo a público é parte da função da imprensa, o que a reportagem fez bem ao dar espaço também às contestações ao DI; afinal, o consenso científico em defesa da evolução é estrondoso e tem evidências muito sólidas em seu favor. Pode ser que as pessoas acabem se rendendo ao canto de sereia? Sim, pode. É um risco que se corre. Mas muitos outros, que não estavam cientes dessa movimentação dos defensores do DI, podem ver a reportagem e se animar a buscar elementos para rebatê-lo.
Vejo aqui um paralelo com as críticas a Bill Nye por ter participado de um debate com o criacionista Ken Ham, pois isso significaria dar “credibilidade” ou “divulgação” a algo que não mereceria nenhuma das duas coisas. Nye se justificou explicando que quer chamar a atenção para o estado da educação em ciência nos EUA. Se pensarmos que mais cedo ou mais tarde pode haver pressão para que o DI seja ensinado nas escolas ao lado da evolução também no Brasil (os Estados Unidos já têm uma coleção de decisões judiciais sobre esse tema), o alerta faz sentido.
Na discussão de Facebook sobrou até para os nazistas. “Não se deveria também noticiar sobre um congresso de nazistas sob o pretexto de que estão crescendo”, escreveu alguém (Olha a Lei de Godwin aí, gente!). Bom, vamos analisar a afirmação. Será mesmo que, se houvesse um recrudescimento do nazismo, não deveríamos divulgá-lo? Tenho cá minhas dúvidas. Esse tipo de argumento parece partir do pressuposto de que toda divulgação é propaganda positiva. Bom, o New York Times publicou recentemente longa matéria sobre o crescimento do antissemitismo na Europa. Leiam e avaliem se isso deveria ter sido publicado (afinal, pode ser que alguém se anime com esse negócio e resolva aderir) ou não. Eu acho que deveria. A chave está não tanto no fato de falar ou não do que se considera uma ameaça, mas na maneira como se fala (mas, pelamordedeus, não estou comparando criacionistas ou defensores do DI a nazistas!).
Enfim, sou pela divulgação. Mas não pela mera divulgação propagandística. É preciso mostrar o que o movimento propõe, qual sua representatividade, e mostrar que há contestações muito bem fundamentadas a ele. E isso a reportagem fez.
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