Um artigo curtinho de Salman Hameed no Guardian de segunda-feira passada nos convida a um exercício de tolerância com aqueles que, apesar das evidências científicas coletadas até hoje, não conseguem aceitar a evolução (segundo o artigo, o grupo inclui 17% dos britânicos e 40% dos norte-americanos).
Hameed entrevistou profissionais e estudantes de Medicina no mundo islâmico e descobriu uma rejeição semelhante às teorias da Charles Darwin, e aponta um fator importante: “Para um subgrupo de entrevistados, a evidência (ou falta dela) não tem nenhuma influência em sua rejeição à evolução. Para eles, a aceitação da evolução biológica levaria ao abandono da religião. O custo de aceitar a evolução seria simplesmente alto demais para eles.”
A proposta de Hameed é discutir o que fazer nesses casos em que as pessoas têm convicções que dão sentido à própria vida – embora aqui estejamos falando de crenças religiosas, há outras convicções com poder semelhante, como por exemplo ideologias políticas ou o comprometimento com causas sociais. Há quem proponha partir para a ridicularização pura e simples, basta ver nos comentários publicados após o artigo; mas, para mim, isso só serve para quem está mais preocupado em cultivar um sentimento de superioridade que em divulgar boa ciência. Hameed sugere compreensão e empatia, e um esforço para desvincular aquela crença particular – no caso, a rejeição à evolução – do processo de “conferir sentido à vida” (o meaning-making do artigo), ou seja, mostrar às pessoas que a evolução é compatível com a crença religiosa – se elas não aceitarem esse fato, as evidências serão inúteis. Só depois será possível promover um exame desapaixonado dessas evidências para que o crente possa aceitar a evolução sem dramas de consciência.
Claro, ajudaria muito se certos setores do ateísmo militante não insistissem tanto no mantra de que a evolução comprova que Deus não existe…
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