Depois de 12 anos, o geneticista Francis Collins está de saída do comando dos National Institutes of Health norte-americanos. O cientista e cristão evangélico devoto, que ajudou a desvendar os segredos do genoma humano e identificou os genes responsáveis por uma série de doenças, foi unanimidade bipartidária: condecorado pelo republicano George W. Bush em 2007 e nomeado para o posto pelo democrata Barack Obama, em 2009, Collins ainda chefiou o NIH sob mais dois presidentes, o republicano Donald Trump e o democrata Joe Biden, que o descreveu como “um dos cientistas mais importantes de nossa época” e “uma das primeiras pessoas a quem pedi para permanecer em seu posto” após a vitória eleitoral de 2020. Collins disse que ficará à frente do NIH até o fim do ano, e depois disso irá retornar ao laboratório que chefiou no National Human Genome Research Institute, um dos vários institutos de pesquisa biomédica que compõem o NIH e que teve Collins como diretor entre 1993 e 2008.
Francis Collins, também conhecido pelo best-seller A Linguagem de Deus (que precisa urgentemente de reedição no Brasil), foi um dos fundadores da BioLogos, entidade que busca ajudar cristãos evangélicos norte-americanos a entender e aceitar a teoria da evolução, mostrando que ela é plenamente compatível com a fé cristã. À frente do NIH, assumiu outra batalha de convencimento diante do público evangélico, sendo um dos principais defensores das vacinas contra a Covid-19 – o NIH foi responsável pela parte governamental da corrida pelo desenvolvimento de vacinas, incluindo financiamento a laboratórios farmacêuticos.
No Washington Post, a colunista Kathleen Parker escreveu um comentário extremamente elogioso sobre Collins e seu trabalho. Certamente veremos mais textos como este nos próximos dias. Mas o que eu estou realmente esperando é o mea culpa de todos os ateus militantes que, em 2009, criticaram a escolha de um cristão para comandar o NIH simplesmente porque ele era... bem, um cristão. Sam Harris fez isso. Jerry Coyne fez isso (e ainda pediu a renúncia de Collins em 2010). Steven Pinker fez isso. As alegações iam desde o fato de Collins não esconder sua fé – o que, na mente desses ateus, faria dele uma péssima escolha para ser o “rosto” da ciência norte-americana – até o temor de que suas convicções religiosas influenciassem sua ação à frente da agência governamental.
Nenhuma das previsões apocalípticas do ateísmo militante (por mais irônico que isso soe) se confirmou. Mas não acho que as desculpas virão, porque a mentalidade segundo a qual um cristão é desqualificado para cargos públicos segue firme e forte – basta ver o show de preconceito antirreligioso após Trump ter escolhido Amy Coney Barrett para a Suprema Corte. Se vier algo dessa turma, mais provável que seja uma comemoração – e a cobrança para que o próximo diretor do NIH seja, de preferência, um ateu tão enfático sobre seu ateísmo quanto Collins é sobre seu cristianismo.
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