Finalmente, o blog está de volta. Tive de dar um tempo nas atualizações porque, além das minhas obrigações normais como editor de Opinião, fiquei responsável por editar o caderno especial sobre o legado de Bento XVI, publicado na quinta-feira passada. Depois disso, mais uns dias para cuidar das pendências não resolvidas do período, e agora tudo se encaminha de volta ao normal. Até começar o conclave…
Falando em conclave, estou tentando descobrir o que alguns dos cardeais apontados como favoritos pela imprensa já disseram sobre ciência e religião. Começo com o italiano Angelo Scola, arcebispo de Milão e, segundo alguns, o preferido de Bento XVI para sucedê-lo.
Temos alguns pronunciamentos interessantes, como um de 2009, na abertura de um congresso de astronomia em Veneza (arquidiocese da qual Scola foi patriarca). Confiram um trecho:
A presença de tantos cientistas neste congresso, muitos dos quais manifestadamente católicos, representa um sinal indiscutível do diálogo entre fé e razão, entre ciência e religião, ao qual a mensagem do Santo Padre se refere. Vejo-o como um passo decisivo na direção de uma mudança na atual angústia antropológica criada por uma rápida transição em nosso planeta, na direção da boa vida pela qual toda a família humana anseia. Uma interessante confirmação dos frutos dos seus esforços é sua intenção, dentro desta conferência, de buscar o diálogo com outras importantes disciplinas como a arte, a música e a literatura. Inclinar-se à unidade do conhecimento, que em nossa era moderna é tão fragmentado, é uma necessidade que exige ir além da pura interdisciplinaridade.
Achei também um video curtinho em que Scola reafirma que não há inimizade entre ciência e religião:
O que interessa é o começo: Deus é realmente o criador. E não é inimigo da ciência, ao criar. A fé não tem medo das descobertas científicas, não tem medo que se chegue à chamada “partícula de Deus”, impropriamente chamada assim. Não tem medo dessas descobertas, porque o homem intui que o principal de sua existência é a relação, o relacionamento que só pode ocorrer entre seres viventes e racionais.
E, por último, queria ressaltar um trecho da homilia da missa do Domingo de Páscoa de 2012. Foi justamente a menção à relação entre ciência e fé que chamou a atenção do jornal milanês Il Giorno:
Estes três elementos (a novidade da presença do Ressuscitado, a compreensão do desígnio salvífico do Pai e o dom do Espírito) descrevem a experiência da nova relação com Jesus. Não apenas a dos primeiros discípulos, mas a nossa. Perguntemo-nos: é possível ainda sustentar que tal forma de experiência, a experiência cristã, seja racional? A sua reivindicação de verdade se apoia sobre bases sólidas? Pensemos, por exemplo, nas objeções daqueles que, partido das incríveis descobertas da ciência, afirmam que tudo se resume à natureza (o “naturalismo biológico”).
É certo que podemos, como crentes, aceitar todos os resultados comprovados pelas ciências naturais – ressalto: todos os resultados, mas não todas as suas interpretações, nem todos os seus usos -, integrando-os com a existência de um Deus criador e redentor do universo. Não são poucos os cientistas crentes que dão testemunho disso, e um deles, Peacocke, até cunhou a expressão “naturalismo teísta”. A experiência cristã é racional mesmo para o homem sofisticado do terceiro milênio.
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