Em 2013, o projeto Ciência e Religião na América Latina, da Universidade de Oxford, com apoio da Fundação John Templeton, chega ao terceiro e último ano, com um workshop programado para ocorrer em Oxford, em setembro. Ignacio Silva, codiretor do projeto ao lado de Andrew Pinsent, concedeu uma entrevista por e-mail ao Tubo de Ensaio para falar sobre o andamento do projeto. Após ter estudado Filosofia, História da Ciência e Filosofia da Ciência na Argentina, Silva foi para Oxford, onde obteve seu mestrado em ciência e religião estudando com John Hedley Brooke, e por lá ficou. “O mestrado foi vital na minha carreira; depois passei a trabalhar no meu doutorado e me envolvi mais e mais com essas discussões, que considero de importância fundamental no nosso tempo”, conta Silva, que hoje é pesquisador no Ian Ramsey Centre for Science and Religion, da Universidade de Oxford.
Das metas estabelecidas quando o projeto Ciência e Religião na América Latina começou, o que já foi atingido?
Quando o projeto começou, em 2011, conhecíamos pouco sobre a situação geral do debate sobre ciência e religião entre os acadêmicos latino-americanos. Nosso objetivo era mapear o território: descobrir grupos de pesquisa e especialistas isolados trabalhando nesse tema, e fazer com que pudessem se reunir. Os congressos na Cidade do México, em 2011, e no Rio de Janeiro, em 2012, cumpriram essa meta, atraindo mais de 500 especialistas de toda a região.
E o que falta ser feito?
Entrando no estágio final do projeto, queremos consolidar um grupo básico que vai ajudar a definir e desenvolver novas iniciativas para a região no curto e médio prazos.
Após dois anos de projeto e dois congressos, como você descreveria o panorama do diálogo entre ciência e fé na América Latina?
A América Latina é peculiar ao unir duas tradições acadêmicas: a norte-americana e a da Europa continental. Isso cria perspectivas completamente novas quando se lida com assuntos que ligam ciência e religião. No geral, na América Latina não se vê o mesmo desconforto que estudiosos de outras regiões do mundo sentem em relação a esse tópico. Como exemplo de uma abordagem própria da América Latina, existe um interesse especial em lidar com tópicos sobre teologia e meio ambiente (de uma perspectiva evolucionária), o que não se percebe com tanta ênfase no âmbito norte-americano e europeu, embora esse tema também seja tratado nessas regiões. Por outro lado, é evidente a falta de recursos em muitos países latino-americanos para esse tipo de pesquisa; os recursos existentes muitas vezes estão desatualizados.
O projeto incluía uma pesquisa on-line. Os resultados já estão prontos?
A pesquisa mostrou que existe um enorme interesse na América Latina por tópicos de ciência e fé, bem como o imenso potencial que os especialistas têm para redefinir o modo de encarar esses temas. Os resultados estarão disponíveis quando o projeto chegar a suas etapas finais.
Por que o evento de setembro próximo, em Oxford, terá o formato de workshop em vez de ser um congresso, como na Cidade do México e no Rio?
A ideia do evento de Oxford é reunir pesquisadores de toda a América Latina para um contato com especialistas da Europa e dos Estados Unidos para pensar, imaginar, definir e planejar de forma concreta, em colaboração, futuros projetos para a região. Isso exige que tenhamos um grupo pequeno, para que as discussões sejam as mais abrangentes e úteis possíveis.
Você, como pesquisador, ou a Universidade de Oxford têm planos para seguir trabalhando sobre o diálogo entre ciência e fé na América Latina quando o projeto terminar?
Eu estou comprometido com a continuação do desenvolvimento de oportunidades e bolsas de estudo no futuro para especialistas latino-americanos nesse campo. O workshop de Oxford será um evento-chave nessa perspectiva; estou aguardando ansiosamente por ele e pelo trabalho que se seguirá.
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Como vocês leram acima, o evento de setembro na Inglaterra será restrito apenas a pessoas convidadas pela organização. Mas há vagas para até cinco acadêmicos latino-americanos que estejam interessados em participar do evento e não figuram entre a lista de convidados. Quem quiser a chance de ir a Oxford precisa se inscrever até 1.º de abril, fiquem atentos aos requisitos!
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