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Judaísmo e células-tronco embrionárias
| Foto:
Priscila Forone/Gazeta do Povo
Embriões congelados: a lei israelense permite a pesquisa, mas proíbe produção de embriões especificamente para obter células-tronco.

Quem vive reclamando que a religião atrapalha o progresso científico (o que aliás é uma grande mentira) provavelmente vai achar interessante um artigo que saiu na semana passada no The Jewish Daily Forward. Joy Resmovits compara Israel e Estados Unidos no campo da pesquisa com células-tronco embrionárias e afirma que, enquanto os religiosos americanos “atravancam o progresso”, os religiosos israelenses o favorecem.

O raciocínio é bem simples (e, segundo alguns comentaristas, é simplista): para o Judaísmo, o embrião de até 40 dias não é nada. Ou pelo menos nada humano. Ou nada digno de proteção. Então, a pesquisa com embriões estaria liberada, do ponto de vista religioso. Consequentemente, a religião em Israel estaria favorecendo a pesquisa científica, e por aí vai. Prova disso, diz Resmovits, é que cientistas israelenses publicam mais papers sobre células-tronco per capita que os americanos.

Parece mesmo simplista. Como um outro comentarista afirma, quantidade não reflete necessariamente em qualidade (embora seja mais fácil extrair conteúdo de qualidade partindo de uma quantidade maior). Além disso, mesmo a questão teológica não parece tão simples. O rabino David Novak, por exemplo, considera imorais as pesquisas com células-tronco embrionárias, e escreveu um livro sobre a proteção à vida humana pelo prisma do Judaísmo.

Além disso, o artigo parece padecer daquele wishful thinking que acomete todo defensor da pesquisa com embriões, pois ignora o fato de até agora as pesquisas com células-tronco adultas serem as únicas com resultados promissores. E, ainda por cima, Resmovits demonstra desconhecer a posição católica sobre o assunto. Não é a doutrina católica que afirma que a vida humana começa na concepção; a Igreja defende a proteção da vida desde a concepção porque existe evidência científica suficiente de que é no encontro dos gametas que começa a vida humana, com o surgimento de um indivíduo da espécie humana (acho que isso é inegável) com carga genética específica, diferente daquela de seus pais. O máximo que a Igreja poderia fazer é se pronunciar sobre o momento em que o embrião, ou o feto, recebe a alma espiritual, mas esse é um assunto ainda em discussão. O que a Igreja já declarou é que, independentemente do momento da infusão da alma, o ser humano merece proteção desde a concepção porque é a ciência quem diz que, no instante da concepção, surge um novo ser humano.

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