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O jornal USA Today publicou um vídeo interessante (embora um pouco deficiente na parte técnica) com um pequeno debate entre Karl Giberson, da fundação BioLogos, e Jerry Coyne, professor da Universidade de Chicago. Em comum, eles defendem a teoria da evolução proposta por Darwin; mas, enquanto Giberson é protestante, Coyne é ateu.

(Aviso: soube que em alguns computadores o vídeo não aparece; você pode assistir ao debate direto no site do USA Today)

Giberson começa perguntando a Coyne sobre a existência de cientistas que também têm fé. Até aí, ambos concordam que isso existe (não se nega o óbvio). Mas Coyne apresenta duas observações: a primeira, que a proporção de cientistas crentes é bem menor que a de norte-americanos crentes. A segunda, que esse argumento não funciona para comprovar a compatibilidade entre ciência e fé, e dá um exemplo: você não diz (quer dizer, alguns idiotas dizem) que catolicismo e pedofilia são compatíveis só porque existem padres pedófilos. Embora eu também não seja muito fã do argumento de que “existem cientistas religiosos, portanto ciência e fé são compatíveis”, a analogia de Coyne não procede. Afinal, um padre pedófilo é, sem sombra de dúvida, um mau católico, pois a pedofilia é condenada pelo catolicismo. Já um cientista religioso pode ser tanto bom cientista quanto bom fiel.

Mas Coyne sugere uma discussão bem mais interessante, na minha opinião. Os métodos da ciência e da religião são compatíveis? Coyne usa os mesmos argumentos de Carl Sagan e Stephen Hawking (que, a julgar por algumas reações no blog sempre que cito o nome deles, gozam de uma infalibilidade até maior que a que os católicos atribuem ao Papa): a ciência é superior porque tem peer review, porque é comprovável ou falseável experimentalmente; já a religião se apoia em autoridade, revelação e dogma. Bom, aqui no Tubo já dissemos muitas vezes que o simples fato de se basear em autoridade não torna a religião irracional e que muitas outras realidades da vida (não só a religião) se baseiam em afirmações não comprováveis cientificamente; além disso, num livro que ainda preciso resenhar aqui, o Belief in God in an age of science, de John Polkinghorne, o autor usa dois exemplos para mostrar como o método mental de construção das verdades científicas e das verdades religiosas é mais parecido do que imaginamos à primeira vista.

Coyne, em um certo momento, lê algumas afirmações tiradas do site BioLogos, em que os autores professam sua fé cristã. Ele pergunta se uma frase do tipo “Jesus morreu por nossos pecados e depois ressuscitou” pretende ser uma afirmação a respeito de uma verdade, de um fato. Giberson responde que sim, mas não se pode igualar uma afirmação sobre a ressurreição de Cristo a uma afirmação sobre como funciona um medicamento. Ambas são verdades, mas não operam no mesmo nível, digamos, de “comprovação”. Para os católicos, o começo da segunda leitura da missa de domingo passado dizia justamente isso: “A fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê.”

Em sua intervenção final, Coyne diz que só existe uma ciência, mas várias religiões. Já vi isso aqui no Tubo sendo usado como pretexto para afirmar que todas as religiões são falsas. Obviamente há falhas lógicas nesse tipo de argumento. De fato, as religiões afirmam coisas bem diferentes sobre certos assuntos: por exemplo, para uns, Jesus é Deus; para outros, um super-homem, ou um espírito superior, ou um profeta, ou um grande líder, ou um fulano qualquer sobre quem se inventou uma tremenda história. O fato de haver diferentes versões sobre a natureza de Jesus não significa que todas sejam falsas: uma há de ser verdadeira. E Giberson acrescenta que o fato de haver várias religiões também deriva do fato de a religião lidar com perguntas muito mais profundas e complicadas.

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