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É, parece um anacronismo, e talvez seja mesmo. Mas é o exemplo que Paul Wallace oferece no Huffington Post para mostrar que, bem antes de os pioneiros do Design Inteligente começarem a publicar seus livros, um dos maiores astrônomos de todos os tempos já descartava o tipo de raciocínio que os defensores do DI usam.

O artigo de Wallace surgiu por causa de um debate na internet sobre o suposto esgotamento do DI. O episódio citado por Wallace ocorreu em 1604, quando Kepler observou um brilho novo no céu. Era a SN 1604, uma supernova, consequência de uma tremenda explosão estelar. Mas Kepler não sabia de nada disso e chegou a considerar a hipótese de Deus ter simplesmente posto a estrela naquele lugar. O astrônomo logo colocou de lado essa hipótese, que colocaria um fim imediato na discussão, e disse que deveríamos pensar em alguma outra explicação. Kepler não tinha a menor ideia de que explicação seria a correta, mas séculos depois tivemos a resposta.

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Wallace argumenta que, para Kepler, “o universo foi projetado; então ele deve ser compreensível”, enquanto os defensores do Design Inteligente invertem o argumento para “o universo é incompreensível; então, ele deve ter sido projetado”. O intrigante é que Kepler adotava essa posição justamente por respeito a Deus, o mesmo respeito que vários adeptos do DI também têm. O artigo diz que a atitude de Kepler “surgiu de sua convicção de que o trabalho criativo de Deus não se encontra no que está oculto, na escuridão e na confusão. Ele acreditava, de um modo que superava seus contemporâneos, na compreensibilidade da criação de Deus porque era criação de Deus”. Já o DI, diz Wallace, “reduz Deus a um tipo de santo gambiarrador” [perdoem o neologismo] por localizar o divino justamente naquilo que ignoramos ou não sabemos explicar. Isso, afirma, não só é desnecessário como também é prejudicial.

A ironia do DI, diz Wallace, é que, ao fechar as portas à ciência, ele tira das pessoas a chance de apreciar a natureza com mais profundidade e de se aproximar do Criador em que essas pessoas acreditam. É por isso que, mais cedo ou mais tarde, o DI deve desaparecer, diz o professor de Física.

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